sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sic Transit Gloria Mundi

Graça não há, mas nem culpa esperes;
Essa é a Lei: Faze o que queres!
(Aleister Crowley, em Liber XLIV)

ntem, inevitavelmente, sentimos os primeiros alvoroços provocados pelo peso da bombástica notícia do falecimento do super popstar mundial Micheal Jackson. Como todos os meios de comunicação já estão exaustivamente – e não podia ser de outra forma – dedicados à gloriosa tarefa de explorar ao máximo a notícia, privar-me-ei de comentar nessas breves linhas qualquer coisa a respeito dele.

Creio que valerá explicar que citar aqui o nome daquele popstar é algo meramente incidental, pois foi a partir da notícia de sua morte que escutei a seguinte pérola de um bom amigo meu, Companheiro de Ofício: “esta é uma oportunidade ímpar para meditarmos na máxima Sic Transit Gloria Mundi”. Ok, disse eu, sugestão aceita. Vamos à reflexão:

A expressão pode ser traduzida como “a glória do mundo é passageira”. Ao que tudo indica (ou, pelo menos, conforme indicado pelo Wikipedia) a origem desta sentença está numa variação de uma outra frase presente na obra medieval “Imitação de Cristo”, atribuída ao monge agostiniano Thomas Kempis, que viveu lá pelo século XV. Na Imitatio estava escrito O quam cito transit gloria mundi, algo que podemos precariamente traduzir como “o quão rapidamente passa a glória do mundo”. Seu significado, embora macabro, é bem simples; seu propósito, religioso, é ainda mais fácil de ser compreendido. Explicando-o, uma vez constatada a brevidade da vida, deveríamos nos voltar às coisas ditas espirituais, pois estas são consideradas eternas. Desse modo, de nada valeria nos dedicarmos àquilo que é transitório, terreno, como glórias, conquistas e alegrias mundanas, mas sim deveríamos nos voltar para o que fosse duradouro, sempiterno, extramundano, para algo que estivesse no além.

Atualmente, essa expressão medieval foi transformada num bordão empregado nas mais variadas situações. Por exemplo, ela é citada três vezes ao longo da magnífica cerimônia Católica de entronação dos Papas. Ao mesmo tempo, são diversos os rituais maçônicos onde ela ocorre. Não se sabe exatamente quais foram as razões que levaram os doutrinadores a colocarem o Sic Transit Gloria Mundi nestas cerimônias tão distintas, mas é bastante razoável supor que a óbvia reflexão espiritual suscitada pela expressão, acerca do caráter transitório das glórias e das conquistas mundanas, tenha sido sua motivação básica. Talvez até mesmo não exista outro motivo, senão a reflexão deste que é o seu sentido mais aparente.

Contudo, não é somente nos ilustrados meios eclesiásticos e iniciáticos que a expressão aparece. De tão grandiosa que ela se tornou, até mesmo a pena dos fantásticos Albert Uderzo e René Goscinny, criadores das inigualáveis “As Aventuras de Asterix”, tratou de registrá-la. Se você alguma vez leu qualquer uma dessas hilárias histórias, haverá de se lembrar que nelas há a recorrente e invariavelmente cômica figura daqueles desafortunados piratas, cujo barco é sempre afundado pelos gauleses Asterix e Obelix. Pois bem, na edição do As 1001 Horas de Astérix (do original Astérix chez Rahazàde, também publicado em inglês sob o título Asterix and the Magical Carpet – edição que ficou totalmente a cargo de Uderzo), após novo encontro com os gauleses, os piratas tomam mais uma apocalíptica surra e perdem tudo que tinham. Refletindo sobre o que ocorreu, um dos piratas, latinista que era, diz conformado:

Asterix and the Magical Carpet

Esse feliz e irreverente uso do Sic Transit Gloria Mundi dá o que pensar. Na verdade, para mim ele é inspirador. No mínimo, nos lembrará que é perfeitamente possível mudar um pouco a perspectiva, deixando-a mais interessante e menos macabra.

Assim, dentro desse novo contexto, pensar na transitoriedade da vida humana pode nos valer uma outra reflexão. Se todas nossas glórias, conquistas e alegrias mundanas são passageiras, por que não tê-las e aproveitá-las ao máximo? Para que minimizá-las esperando uma gasosa recompensa advinda de um pretenso “outro mundo”, espiritual e imaterial, se nem sequer uma certeza mínima de que ele existe, nós temos? Por que aguardar o além se o agora, por mais passageiro e finito que seja, é tudo o que realmente temos?

Em suma, Sic Transit Gloria Mundi! Assim, como os prazeres da vida são passageiros, penso que devamos desfrutá-los ao máximo enquanto eles existirem, sem qualquer culpa ou temor; como as alegrias mundanas são efêmeras, devemos nos esforçar para multiplicá-las, sem medir esforços; e se nossas glórias mundanas são mesmo transitórias, que elas sejam, além de transitórias, magníficas.

Fonte: http://scribatus.wordpress.com/2009/06/26/sic-transit-gloria-mundi

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Terrorismo Poético

Terrorismo Poético

Capítulo de "Caos, os Panfletos do Anarquismo Ontológico" (parte um de "Z. A. T."),

de Hakim Bey


ESTRANHAS DANÇAS NOS SAGUÕES de Bancos 24 Horas. Shows pirotécnicos não autorizados. Arte terrestre, trabalhos- telúricos como bizarros artefatos alienígenas espalhados em Parques Nacionais. Arrombe casas mas, ao invés de roubar, deixe objetos Poético-Terroristas. Rapte alguém e faça-o feliz. Escolha alguém aleatoriamente e convença-o de que ele é herdeiro de uma enorme, fantástica e inútil fortuna: digamos 8000 quilômetros quadrados da Antártida, ou um velho elefante de circo, ou um orfanato em Bombaí, ou uma coleção de manuscritos alquímicos. Mais tarde, ele irá dar-se conta de que acreditou por alguns poucos momentos em algo extraordinário, & talvez, como resultado, seja levado a buscar uma forma mais intensa de viver.


Pregue placas comemorativas de latão em locais (públicos ou privados) onde experimentaste uma revelação ou tiveste uma experiência sexual particularmente especial, etc.


Ande nu por aí.


Organize uma greve em sua escola ou local de trabalho, com a justificativa de que não estão sendo satisfeitas suas necessidades de indolência & beleza espiritual.


A Arte do grafitti emprestou alguma graça à metrôs horrendos & rígidos monumentos públicos. A arte Poético-Terrorista também pode ser criada para locais públicos: poemas rabiscados em banheiros de tribunais, pequenos fetiches abandonados em parques e restaurantes, arte xerocada distribuída sob limpadores de pára-brisa de carros estacionados, Slogans em Letras Grandes grudados em muros de playgrounds, cartas anônimas enviadas a destinatários aleatórios ou escolhidos (fraude postal), transmissões piratas de rádio, cimento fresco...


A reação da audiência ou o choque estético produzidopelo Terrorismo Poético deve ser pelo menos tão forte quanto a emoção do terror: nojo poderoso, excitação sexual, admiração supersticiosa, inspiração intuitiva repentina, angústia dadaísta - não importa se o Terrorismo Poético é direcionado a uma ou a várias pessoas, não importa se é "assinado" ou anônimo; se ele não muda a vida de alguém (além da do artista), ele falhou.


O Terrorismo Poético é um ato em um Teatro de Crueldade que não tem palco, nem assentos, ingressos ou paredes. Para funcionar, o TP deve ser categoricamente divorciado de todas as estruturas convencionais de consumo de arte (galerias, publicações, mídia). Mesmo as táticas guerrilheiras Situacionistas de teatro de rua já estão muito bem conhecidas e esperadas, atualmente.


Uma requintada sedução levada adiante não apenas pela satisfação mútua, mas também como um ato consciente por uma vida deliberademente mais bela: este pode ser o Terrorismo Poético definitivo. O Terrorista Poético comporta-se como um aproveitador barato cuja meta não é dinheiro, mas MUDANÇA.


Não faça TP para outros artistas, faça-o para pessoas que não perceberão (pelo menos por alguns momentos) que o que acabaste de fazer é arte. Evite categorias artísticas reconhecidas, evite a política, não fique por perto para discutir, não seja sentimental; seja impiedoso, corra riscos, vandalize apenas o que precisa ser desfigurado, faça algo que as crianças lembrarão pelo resto da vida - mas só seja espontâneo quando a Musa do TP tenha te possuído.


Fantasia-te. Deixa um nome falso. Seja lendário. O melhor TP é contra a lei, mas não seja pego. Arte como crime; crime como arte

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Debate eterno rsrs

Dilma: "Meu" governo isso, e aquilo. Serra: Já fizemos isso e aquilo em São Paulo. Marina: O povo precisa disso, temos que ter uma visão tal. Plínio: O sistema será sempre composto por governantes que querem mudar um pouquinho alí e acolá, eu quero transformar realmente.