terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Canais Abertos No BR, democracia, fora os monopólios dos meios de comunicação!


http://www.youtube.com/watch?v=utEgqCRmqdw (LULA NA CONFERENCIA )


http://www.confecom.com.br/ (BR)

http://proconferenciaes.wordpress.com/ (ES)
http://proconferenciaes.wordpress.com/agenda/ (ES)
17 de novembro – Reunião ampliada dos movimentos sociais

Local: Sinttel ( http://www.sinttel.org/ ) ( Sinttel-ES, Rua Barão de Monjardim, 251, Centro, Vitória – ESCEP 29010-390Telefone:(27) 3223-4844
18h30
20, 21 e 22 de novembro – Conferência Estadual de Comunicação do Espírito Santo (Conecom-ES)

14 a 17 de dezembro – 1ª Conferência Nacional de Comunicação

domingo, 22 de novembro de 2009

Aaron Russo, cineasta e politico conversando com Nicholas Rockefeller, da dinastia de banqueiros Rockefeler.Depois de manterem uma amizade proxima com Nicholas Rockefeler, Aaron rompeu abruptamente com essa ligacao, horrorizado com o que ficou sabendo sobre os Rockefellers e suas ambicoes...
Um dia destes recebi uma chamada de um advogado que conhecia e ele me disse:Quer conhecer um dos Rockefellers?Eu disse: Claro, adoraria.Nos tornamos amigos e ele comecou a me divulgar coisas imensas, e numa noite ele me disse: Vai haver um acontecimento, Aaron, e depois desse aconteimento nos vamos para o Afeganistao, para podermos colocar oleodutor no Mar Caspio (ISSO JA ACONTECEU), depois iremos para o petroleo Iraquiano e estabeleceremos uma base no oriente medio e depois vamos para a Venezuela, nos livrarmos do Chavez (E SO LER OS JONAIS).As duas primieras ja foram cumpridas, Chavez nao.Voce vai ver malta entrar dentro de grutas a procura de pessoas que nunca irao encontrarE ria-se sobre esta imaginaria guerra ao terror, e nao ha nenhum inimigo real.Ele estava falando sobre como travar esta guerra ao terror e nunca ganha-la, porque sera uma guerra eterna para que se possa tirar a liberdade das pessoas. e eu disse. "Mas como voce vai convencer as pessoas que esta guerra e real?" Ele disse: "Atravez da midia, a midia consegue fazer com que tudo parecea real. Voce vai falando sobre coisas e repetindo-as por muitas vezes ate que as pessoas vao comecando a acreditar (AO EXEMPLO AS REPETIDAS VEZES QUE BUSH FALARA SOBRE OS TERRORISTAS, TODOS CONFIRMAM O QUE BUSH FALOU, DE TANTO QUE FALAVA). Voce sabe, eles criaram a Reserva Federal em 1913 atravez de mentiras, criaram o 11 de setembro.que foi outra mentira, E atravez dele, estao travando uma guerra contra o "terror" e de repente ja s esta no Iraque, e agora vao para o IraAaron Russo: "Mas porque isso tudo? Qual o objetivo? Voces ja tem todo o dinheiro do mundo, tem todo o poder, voces estao a espalhar sofrimento. Isso nao e coisa que se faca."David M. Rockeffeler: "Para que voce quer saber das pessoas?, toma conta de ti proprio e toma conta da tua familia"Aaron Russo: "E qual e o objetivo principal disto tudo?"David M. Rockeffeler: "O principal e chipar as pessoas do mundo com um RFID. E ter todo dinheiro transacionado atravez disso e fazer tudo atravez desses chips, e se alguem quiser protestar sobre alguma coisa ou violar os nossos ineresses, podemos simplesmente desligar o chip."

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

www.blogdomaroni.com.br






54. Virgindade e Aborto. Grandes fontes de sofrimento por preconceito.

Você também é responsável por isso, pela sua passividade, as ditaduras compostas por políticos por fanatismos religiosos fazem isso se tornar rotina.
Moçada, estou aqui de novo. Para alguns sou um velho, arrogante, metido, presunçoso e com um português de merda. Para outros sou um homem experiente, vivido, malandro e putanheiro. Maravilha. Opinião é igual a cú, cada um tem a sua. E respeito. Mas ninguém pode negar que, tenho 58 anos, comecei do nada, construí um pequeno império, sou formado em psicologia, seis anos de consultório, bem sucedido em tudo que fiz, não sou humilde, tenho 27 anos de noite, não tenho preconceitos, já fui preso 6 vezes, não tenho vergonha de dizer, quem deve ter vergonha é quem me prendeu injustamente, pois o lado serio da nossa justiça sempre mandou me soltar, mas sempre fui absolvido e meu país sempre fez justiça comigo. Amo a liberdade total, principalmente de pensamentos. Odeio as hipocrisias. Acredito que podemos fazer um mundo melhor com pequenos atos.
O fato de eu não ter preconceitos é que há uns 12 anos atrás me caiu um livro nas mãos com o titulo “O homem que vivia sem preconceitos”. Fiquei fascinado com este livro e ao terminar de ler refleti:
Como será viver sem preconceitos?
E a partir desta data comecei a minimizar dentro de mim todos os preconceitos. Isso é impossível, mas muitos deles consegui manipulá-los pela razão. Comecei a dirigir a minha vida por processos reflexivos e comecei a ficar fascinado. Posso dizer à vocês como é bom viver sem preconceitos. Senhores, é mentira, este livro nunca existiu!
Após ver o sofrimento, as frustrações e as injustiças, começo a perceber que os preconceitos são simplesmente formulas de manipular o meio. É uma estratégia, é uma ferramenta, dos autoritários que se acham superiores por uma insegurança ou interesses pessoais e tentam manipular segundo seus valores. O que mais incomoda os autoritários que pode ser um pai, uma mãe, um irmão ou uma irmã mais velha, um tio ou uma tia, ou a família, as instituições religiosas, os políticos, e assim é um querendo dominar o outro, mandar no outro e viver pelo outro. Ah, como é bom viver ou tentar viver sem preconceitos. Como existe beleza nos que são diferentes de mim. Bem diante disto gostaria de fazer aqui alguns comentários sobre dois temas, virgindade e aborto. Há uns tempos atrás uma amiga me procurou perguntando se eu sabia de alguém ou de algum local que fazia aborto, pois ela estava grávida de 2 meses e estava desesperada. Respondi que não sabia e que no Brasil o aborto é ilegal e que o assunto é complicado. Eu particularmente sou contra o aborto e a favor do aborto. Pode parecer incoerente ser a favor e contra. Nos meios religiosos, principalmente nos paises mais subdesenvolvidos o aborto é um tabu e um dogma religioso indiscutível. Eu tenho consciência que é uma vida que esta sendo gerada dentro daquele útero. Há dois meses atrás a menstruação da Maíra atrasou por uns 25 dias. Ficamos preocupados, mas foi um aspecto hormonal e depois de alguns dias seu período menstrual se estabilizou. Bem o que temos aí são duas situações. A primeira é de uma moça grávida de 27 anos que veio me procurar e a segunda Maíra com um ciclo menstrual desregulado.
No primeiro caso, o feto já estava formado, aquela moça carregava dentro de si um ser a crescer a cada hora, e a cada dia. O seu parceiro nem mesmo ficou sabendo da gravidez, pois os vínculos eram muito frágeis. Mas o que quero enfatizar aqui é o sofrimento daquela moça, uma gravidez indesejada, um pai que teoricamente não existe, uma alteração emocional fortíssima, o corpo dela se preparando para ser mãe, o útero crescendo, o seu ato sexual conduzido por uma irresponsabilidade ou por algumas horas de prazer transformam essa mulher. Ela não fez porque quis. Deitada sozinha em sua cama na madrugada entra em desespero, o psicológico de mãe começa a exercer um domínio, a sociedade a vê como uma vilã, os religiosos a condenam, e as leis não lhe dão conforto, pois esta tendo dentro de si o crescimento de um ser que ela não quer e poderá atrapalhar a sua vida, se esse vier a nascer não recebera o amor e a segurança material necessária, essa moça se desestrutura, se sente solitária, cai na mão de curiosos, corre o risco de morrer por infecções como ocorre com milhares de adolescentes e mulheres no Brasil, ela continua solitária e o filho continua indesejado crescendo dia a dia. Percebem o sofrimento e a angustia dessa moça por preconceitos por normas e regras hipócritas. Sim, sei que ali esta sendo gerada uma vida. Mas o que fazer, agir como o avestruz que diante dos problemas enfia a cabeça no buraco e com isso tem a sensação que isso, o problema, não mais existe. Essas hipócritas religiões condenam o uso do preservativo, que o sexo só pode acontecer nos períodos férteis e que como controle de natalidade deve-se praticar o coito interrompido que nada mais é que no meio da relação o homem tirar o pênis e ejacular fora como se isso fosse mais humano e mais justo para o casal. De sexo, teoricamente esses religiosos não deveriam entender de nada, pois eles devem praticar o celibato e para eles qualquer “buceta molhada ou pau duro é coisa do diabo, e gay é uma aberração da natureza.”

Não tenho o que falar. Quero que você reflita.

A religião prega o amor ao próximo, o respeito a vida, não vou citar aqui os casos de pedofilia dentro de instituições religiosas, nem mesmo as taras e perversões camufladas da sociedade, tudo deve acontecer no mar de rosas de amor ao próximo e de respeito a vida.
Mas aquela mulher engravidada, se praticou o aborto irá carregar pela vida um enorme complexo de culpa que poderá afetar o seu relacionamento interpessoal e ate a sua vida sexual.
Não esqueçamos os dados estatísticos assustadores aonde a grande maioria dos abusos sexuais em adolescentes e mulheres são praticados no seio da família. Não estou aqui desvalorizando a família. Eu particularmente considero que família é um grupo de pessoas que se mantém unidos por laços afetivos.
Citei como segundo exemplo o caso da Maíra e que quando sua fase menstrual se regularizou, simplesmente eliminou os óvulos não fecundados. Os meus espermas quando lançados no útero da Maíra não fecundam por um controle hormonal, com uso de anticoncepcional.
Pergunto:
Vida. O que é?
Alma. O que é?
Amor ao próximo é deixar aquela mulher na solidão com um feto não desejado?
Não estou aqui querendo “cagar” regras ou ser o dono da verdade. Estou usando deste texto para levá-lo a reflexão sobre este tema que é tão complexo. Sou a favor do aborto e sou contra o aborto.
Fica aqui registrado o meu respeito e carinho por toda mulher que infelizmente teve que praticar aborto e carrega isso como complexo de culpa. Saiba que você não é só e que milhares de outras mulheres tiveram que tomar essa atitude e que o assunto é muito delicado.
Agora vamos falar da segunda parte desse texto. Virgindade. Sou contra a virgindade e a favor da virgindade. É , é incoerente. É difícil citar exemplos ou falar sobre virgindade no sentido cultural. Na África chegam a cortar o clitóris das meninas no inicio da puberdade para que elas não venham a sentir prazeres na sexualidade. Ainda existem pais que jogam suas filhas para fora de casa quando perdem a virgindade. Ainda existem cafetinas que vendem virgindade como troféu. As religiões vêem na virgindade um troféu, uma benção divina, uma demonstração de santidade. Eu particularmente gosto das mulheres que gozam gostoso, que gostam do cacete do homem, que sentem prazer no ato sexual com amor e ate sem amor. Gosto de mulheres, de fêmeas que gostam de machos. Respeito as lésbicas e os gays, é uma forma de opção sexual, pois como já disse em textos anteriores a sexualidade com fins reprodutivos não ultrapassa a 1%.
Mas voltando a vocês virgens. Não vejo nenhum mérito em serem virgens, mas também não vejo nenhum demérito manter a virgindade, pois se ainda não aparecer o homem certo por amor e tesão ou só amor, ou só tesão que também é valido, não se entreguem! Guardem esse tesouro para quem merece ou se faça por merecer. Mas não se esqueçam que a virgindade é só um pedaço de pele que funciona como um selo. O não ter mais o selo faz você uma mulher tão digna quanto a que tem o selo, pois a dignidade da mulher não esta na virgindade, esta no caráter, na sensibilidade, no amor e na capacidade de gerar a vida quando decidido em comum acordo entre dois seres. Bom finalizando o texto. A relação entre aborto e virgindade é que vocês mulheres em um ato de carinho, de amor ou de atração física se entregam ao homem, este lhe tira a virgindade e vocês poderão ser felizes por horas, por meses, por anos ou pela vida toda.
Não importa! O que importa é ser feliz!
Acima citei o meu respeito e carinho as mulheres que tiveram que fazer aborto e agora também digo do meu respeito as mulheres que se mantém castas esperando o homem certo. Vocês mulheres me sensibilizam, a sociedade as querem virgens, após a perda da virgindade vocês devem se transformar em fogosas amantes e se engravidarem a culpa e só dela serão humilhadas, escorraçadas e excluídas da sociedade e se fizerem um aborto carregarão o complexo de culpa por toda uma vida. É minhas amigas, a sociedade é muito delicada com suas hipocrisias. Eu as amo por serem mulheres. De vocês eu vim ao mundo, com vocês eu convivo, com vocês eu dou e recebo prazer, com vocês formamos nossas famílias, temos nossos filhos e tentamos ser felizes. Ignorem os preconceitos, fodam, trepem, chupem os paus dos seus machos, abram as pernas, deixem que eles acariciem seus peitos, os suguem em uma ato de simbologia materna edipiana. Troquem carinhos, sacanagens, fantasias.
Vocês virgens quando acharem o homem certo, aquele que bate no coração e que te de somente tesão, e se vocês já tiverem maturidade entreguem-se, nos corredores dos prédios, nas garagens dos carros, nos motéis e nos drive-ins, no matinho. Não importa o lugar! O que importa é o prazer, é o se sentir mulher. Nós machos, os verdadeiros machos, os homens, os cavalheiros, os gentlemans as amamos.
O que me inspirou a fazer este texto foi minha filha que perdeu a virgindade com 15 anos com amor
e hoje é uma mulher de 30 anos, realizada e feliz. O meu neto que foi planejado e veio com muito amor e que se este fato não tivesse sido planejado hipoteticamente poderia ter acontecido um aborto, e teríamos matado o meu neto, a minha maior fonte de felicidade. Assunto complicadíssimo. A novela das 21 da Globo, Viver a vida que enfatiza entre outro temas polêmicos da nossa sociedade, a virgindade. Me inspirou também aquela minha amiga que me procurou desesperada querendo fazer um aborto e a alteração do ciclo menstrual da Maíra.
Obs 1º: Este homem que não quer ser humilde pede a vocês comentários de mulheres, homens, gays, lésbicas, bissexuais, freiras, padres, bispos, putas, virgens, ex-virgens, seres sedentos de amor, seres frios sexualmente, pois somos nós que povoamos o mundo.
Agradeço antecipadamente todos os comentários que vocês farão.
Iniciei este blog com o objetivo de demonstrar as injustiças que fizeram comigo. Depois falei que roupa suja deve-se lavar na calçada ou aqui neste blog, e hoje uma das coisas que muito me fascina neste blog são os comentários e as perguntas.
Obs 2º: Já passamos dos 77.000 acessos, isso é o que importa.
Obs 3º: Por respeito a você mulher, por respeito a vida não se esqueça do seu anticoncepcional, ou então do preservativo e só se entregue a quem te respeita como mulher. Se de o direito que Deus ou a natureza te dotou. Saibam que vocês mulheres tem uma capacidade de orgasmo muito superior a nós homens. Removam os preconceitos, tirem os bloqueios. Nunca deixe que os complexos de culpa vindo de hipócritas, falsos moralistas ou de homens inseguros em sua sexualidade comprometam esse seu corpo tão lindo. Você pode ser gorda, magra, alta ou baixa, feia ou linda. Isso tudo é casaca, é aparência, pois a essência, a semente esta em você.
Nenhum ser humano tem direitos sobre o outro, o que vale é o dialogo, o convencimento por lógica, por amor, ou cumplicidade. E o melhor caminho para o orgasmo é o respeito, mas não se esqueça que o primeiro que deve te respeitar é você mesma.
Se você se respeita, os outros te respeitarão.


Em meu ponto de vista ser cristão é tomar atitudes. Quem me ensinou foi o pai do cristianismo um grande cara um homem que não tinha preconceitos que não tinha templos e que não cagava regras e sua principal frase era "AMAIVOS UNS AOS OUTROS"

Oscar Maroni.

Quem se atreve a ter certeza?

Este livro convida você a um delicioso e intrigante mergulho nas questões do conhecimento, da ciência e da filosofia. Não pretende dar respostas definitivas, porque não existem. Como dizem seus autores, a intenção é levar os leitores aos conhecimentos e não levar os conhecimentos aos leitores. A Física Quântica deixa de ser um bicho-de-sete-cabeças, e várias outras questões como o princípio da incerteza, a inter-relação de todos os eventos físicos, de que é constituída nossa realidade, são apresentadas sem mistérios. Descortina-se um mar de todas as possibilidades. Abrem-se caminhos e mais caminhos para satisfazer a curiosidade inata e instigá-la a cada passo. Você não precisa ser cientista para entender este livro. Basta se aventurar na leitura. E você pode acabar tomando um café (ou um chá) com bolinhos, no encontro casual entre a nova ciência e a antiga filosofia.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Entrevista com Alan Sokal


São Paulo, domingo, 9 de novembro de 1997.

POLÊMICA Livro de Sokal deixa Paris em chamas
Físicos atacam pensadores franceses em "Imposturas Intelctuais"

BETTY MILAN especial para a Folha

Na primavera de 1996, a comunidade acadêmica americana mal se deu conta de um artigo publicado na "Social Text", umas das revistas mais conceituadas dos EUA e conhecida pela particularidade de combinar posições de esquerda com influências da filosofia pós-moderna. Assinado por Alan Sokal, professor de física na Universidade de Nova York, o texto levava o enigmático título de "Atravessando as Fronteiras - Em Direção a uma Hermenêutica Transformativa de Gravidade Quântica". O artigo só veio a ganhar repercussão quando seu autor revelou, meses depois, em outra revista, que realizara na verdade um grande embuste. No texto "Um Físico Faz Experiências com Estudos Culturais", para a revista "Lingua Franca" (de maio-junho de 1996), Sokal esclareceu que fizera propositadamente uma paródia, sem pé nem cabeça, de certa linguagem "pós-moderna" e "relativista", que recusa a possibilidade de se alcançar um conhecimento objetivo das coisas. O que ele realizara fora uma colagem de dados científicos verdadeiros com citações de obras de filósofos pós-modernos franceses, como Guattari, Deleuze e Derrida, e americanos, como Sandra Harding, sobre física e matemática -e por ele consideradas duvidosas. A revelação caiu como uma bomba nos meios universitários dos EUA. Depois de chegar às páginas do "The New York Times", a polêmica rapidamente tomou corpo e extrapolou as fronteiras dos EUA. Chegou inclusive ao Brasil, onde o economista Roberto Campos, em artigo na Folha de 22/9/96, elogiava Sokal por revelar "a submissão da idéia à ideologia" no pensamento das esquerdas. O próprio Sokal retrucaria a Campos (Folha, 06/10/96), dizendo que suas críticas se dirigiam apenas a uma parcela da esquerda, e que se considerava ainda um pensador de esquerda. Agora, com o lançamento no mês passado do livro "Imposturas Intelectuais", em parceria com o físico belga Jean Bricmont, Alan Sokal volta à carga. Tachados de "censores" pelo semanário francês "Le Nouvel Observateur", Sokal e Bricmont tentam mostrar no livro como os conceitos de ciências exatas que aparecem em escritos de Jacques Lacan, Jean Baudrillard, Julia Kristeva, Deleuze e Guattari, entre outros, não tem rigor científico algum e chegam a ser absurdos. Na França, o assunto suscitou um dos mais vivos debates dos últimos anos, além da indignação de boa parte da "intelligentsia" francesa. Na entrevista abaixo, concedida com exclusividade à Folha no Hotel des Grands Hommes, em Paris, Sokal e Bricmont tecem suas considerações sobre as "imposturas" do celebrado pensamento pós-moderno francês.

Folha -Por que o sr. escreveu a paródia para a "Social Text"?

Alan Sokal - Ela se insere num contexto político. Eu me considero de esquerda porque me oponho à distribuição de renda atual. Constatei que certas tendências da esquerda acadêmica norte-americana adotaram o relativismo, ou seja, a idéia de que o conhecimento mais ou menos objetivo do mundo natural e social não pode existir, de que todo conhecimento é subjetivo. Até as ciências naturais não passariam de mitos. Opus-me a isso, pois acho que tais opiniões estão baseadas em erros e são politicamente suicidas. Nossa tarefa, se quisermos progredir, é elaborar uma análise da sociedade atual baseada no rigor, nos fatos, em uma análise convincente.

Folha - E por que o sr. recorreu à tática de escrever uma paródia e só depois revelar o que fizera?

Sokal - Constatei que nas universidades americanas os departamentos de literatura, ciências sociais e estudos femininos são fechados à crítica vinda do exterior e mesmo de dentro do país. A resposta é sempre a mesma. Ou bem ninguém responde. Por isso, tive a idéia de escrever uma paródia.

Folha - A Folha noticiou o fato, e o sr. foi até mesmo elogiado pelo economista Roberto Campos.

Sokal
- A relação entre as posições intelectuais e as posições políticas é complexa. Fomos apoiados por pessoas de esquerda e direita por idéias que não são de ordem política. Como você deve saber, escrevi uma resposta a Roberto Campos dizendo que não ridicularizava a esquerda inteira, mas apenas uma parte, e que fora apoiado pela maior parte da esquerda americana, quase 80% das revistas.

Folha - A impostura é para o sr. "o abuso reiterado de conceitos provenientes das ciências físico-matemáticas", e o abuso se define por muitas características, entre as quais "falar abundantemente de teorias científicas sobre as quais o sujeito só tem uma vaga idéia". Faz supor que se tem um conhecimento que não se tem. Ao mesmo tempo o sr. escreveu: "Claro que nós não somos competentes para julgar o conjunto da obra dos autores" (Lacan, Kristeva...) e que "nós tentaremos explicar em que consistem os abusos cometidos no que diz respeito às ciências exatas e por que eles nos parecem sintomáticos de uma falta de rigor e de racionalidade no conjunto da obra". Em outras palavras, o sr. afirma que não é capaz de julgar o conjunto, porém julga. Não se trataria também de uma impostura?

Sokal - Uma impostura não. Talvez nós não tenhamos explicado bem o que queríamos dizer. Focalizamos o que os autores dizem quando entram em searas que nós conhecemos, como a matemática e a física. Observamos que eles aí cometeram abusos graves. Valeram-se de conceitos em contextos onde eles não têm pertinência alguma, deformaram termos científicos etc. Isso obviamente não prova nada a respeito do resto da obra.

Folha - Mas está escrito na "Introdução" que os abusos dos autores indicam falta de rigor e racionalidade no conjunto da obra...


Sokal - As imposturas não invalidam a obra toda, e nós somos explicitamente agnósticos sobre a parte que não diz respeito à física. Claro que você pode me perguntar qual é então a importância do nosso livro se o papel da matemática e da física é tão pequeno na obra dos autores criticados. O livro é importante porque mostra que há abusos graves numa parte da obra e permite questionar o resto. Não somos competentes para dirigir o questionamento, porém desejamos que outros o façam.

Folha - A sua análise me parece justa quando o sr. diz que os autores têm um estilo pesado e pomposo e que estão errados ao dizer que há nas obras deles uma preocupação literária e poética. Mas é injusta, na medida em que o sr. só cita os textos incompreensíveis dos autores e não leva em conta o que eles fizeram compreender.

Sokal - Nós escolhemos um tema que é o abuso de conceitos da matemática e física. Os autores abusaram da autoridade, se valeram do fato de serem professores.

Folha - O sr. diz que os intelectuais franceses criticados são frequentemente incompreensíveis porque o que eles escrevem não quer dizer absolutamente nada.


Sokal - Refiro-me a textos determinados. Não faço uma crítica global.

Folha - Voltemos à questão da incompreensibilidade dos autores... Jean Bricmont - As pessoas podem ser favoráveis à psicanálise, mas também reconhecerem que nos textos citados por nós há impostura, ou seja, naqueles em que Lacan usa a matemática. Não pretendemos julgar a psicanálise dele e nem a filosofia de Deleuze.

Sokal - Não estamos dizendo que tudo deva ser imediatamente compreensível: 95% dos trabalhos da física não o são. Nós nos limitamos aos textos que se referem aos domínios que conhecemos bem.

Folha - Em um artigo, Julia Kristeva disse que por intermédio dela o sr. estava criticando a França inteira. O que é um exagero, claro. Mas ela teve razão ao dizer que as ciências humanas e, em particular, a interpretação dos textos literários e a interpretação analítica não obedecem à lógica das ciências exatas. Como o sr. responde a isso?

Sokal - Claro que a lógica não é a mesma, mas nós criticamos o livro da Kristeva sobre a semiótica, no qual ela despeja coisas incompreensíveis sobre o leitor. Bricmont - É importante dizer que não se trata de um debate entre o pensamento anglo-saxão e o francês. Existe na França um espírito francês racionalista, que apreciamos. Diderot, por exemplo, era um racionalista, ao contrário dos autores que criticamos.

Folha - O sr. tem razão ao falar do terrorismo do pensamento intelectual francês. Mas será que este terrorismo não é devido à submissão dos americanos do Norte e do Sul ao espírito sistemático de papagaíce no campo das idéias?

Sokal - Nós utilizamos a palavra terrorismo uma única vez a propósito da Kristeva, que cita um enunciado muito técnico da lógica matemática -um enunciado que nem os matemáticos entendem-, dizendo "sabe-se que", quando ninguém sabe. Trata-se de uma forma de intimidar o leitor.

Folha - Gostaria de saber se existe na América do Norte -como na do Sul- um espírito de imitação. Bricmont - Na do Sul existe. Basta alguém espirrar em Paris para as pessoas ficarem gripadas em Buenos Aires.

Sokal - Em Nova York é a mesma coisa. Podemos dizer que as modas intelectuais parisienses se reproduzem nas universidades norte-americanas e talvez nas brasileiras com um atraso de dez anos.

Folha - Em resposta ao seu livro, escreveu-se no "Nouvel Observateur" que existe incompatibilidade entre uma cultura norte-americana baseada no fato e na informação e uma cultura francesa que se vale mais da interpretação e do estilo. O que o sr. acha disso?

Sokal - Afirmar que os franceses não levam em conta os fatos e a informação é confundir a alta cultura com a alta-costura, que só se interessa pelo estilo. Bricmont - Trata-se de um trocadilho. Nós obviamente apreciamos a alta-costura. Sokal - O pensamento, em qualquer domínio, implica a argumentação. Não pode ser apenas uma questão de estilo. Se for, é poesia.

Folha - Os senhores são mais realistas do que o rei, mais insistentes na separação radical dos gêneros do que os clássicos franceses.

Bricmont - É verdade que me irrito quando encontro um filósofo, como Lyotard, que diz que Deleuze é literatura, quando é filosofia. Tenho tendência a achar que essa história de dizer que não é uma coisa nem outra não é possível.

Folha -Seja como for, a contribuição dos pensadores de língua francesa para a história das idéias não é propriamente negligenciável. Gostaria que os senhores fizessem um balanço da contribuição dos norte-americanos. Bricmont - Balanço é impossível, mas quero citar Chomsky, que é um racionalista e teria gostado do nosso livro.

Sokal - Quando o "Le Monde" disse que há um imperialismo norte-americano e que eu estou querendo impor a cultura da Disney na França, respondi que a América que nós apoiamos é a de Chomsky. Folha -Quais são as condições necessárias para a instauração de um verdadeiro diálogo entre as ciências exatas e as humanas? Bricmont - Há certos ensinamentos resultantes da leitura sistemática dos autores que criticamos. É preciso saber do que a gente está falando. Se alguém quer falar das ciências exatas, deve se informar seriamente. Tudo que é obscuro não é necessariamente profundo. É fundamental distinguir entre os discursos que são de difícil acesso por causa do assunto tratado e aqueles cuja banalidade fica escondida pela falta de clareza deliberada dos propósitos. A ciência não é um "texto". As ciências exatas não são um reservatório de metáforas prontas para serem utilizadas pelas ciências humanas, que têm seus próprios métodos e não precisam seguir as mudanças na física ou biologia. Não se deve usar o argumento de autoridade etc.

Folha - Vocês dizem que criticam as idéias obscuras porque elas reforçam o antiintelectualismo fácil existente na população. Acham que se trata de fazer uma ciência que seja clara e assim possa se tornar popular no próximo século?

Sokal - Popular no sentido da vulgarização? Bricmont - A vulgarização pode ser bem feita... Sokal - No livro, a cada vez que abordamos um domínio científico, procuramos nos referir a bons textos de vulgarização.

Folha - Qual é a relação entre a vulgarização e o mercado?

Sokal - Uma parte da literatura de vulgarização peca por excessos em virtude do mercado. Insiste, por exemplo, nas teorias mais especulativas, apresentando-as como decorrentes da ciência estabelecida. A vulgarização é difícil, é uma tradução de conceitos científicos. Em nosso livro nós explicamos a teoria da relatividade para um público que não é de cientistas.

Folha -Vocês terminam o seu livro dizendo: "Lembro-me que há muito existiu um país em que os pensadores e os filósofos se inspiravam nas ciências, pensavam e escreviam claramente, procurando compreender o mundo natural e social, esforçavam-se para difundir os seus conhecimentos entre os cidadãos e colocavam em questão as iniquidades da ordem social. Esta época era a do Iluminismo -das Luzes- e este país era a França". Gostaria de saber o que se pode esperar agora? Um novo iluminismo ou uma outra coisa?

Bricmont - O fim do livro foi para lembrar aos franceses que o nosso pensamento não é antifrancês. Tendo a pensar que o espírito do iluminismo deveria voltar, assim como a crítica aos abusos de poder que existem na sociedade. O que as pessoas de esquerda chamam de pensamento crítico é obscuro, relativamente obscurantista. Somos contra isso. Sokal - Houve um progresso cognitivo inacreditável neste século, que levou a um progresso tecnológico, mas os progressos cognitivo e tecnológico não implicaram um progresso moral. É preciso estabelecer distinções claras. Dizer que Auschwitz é a consequência do iluminismo é ridículo. Bricmont - Os fascistas utilizavam a tecnologia, mas eram contra o iluminismo.

Betty Milan é escritora, autora de "O Papagaio e o Doutor" e "Paris Não Acaba Nunca".
Onde encomendar: "Impostures Intellectuelles", de Alan Sokal e Jean Bricmont (Editions Odile Jacob, 274 págs., 140 francos), pode ser encomendado à Livraria Francesa (r. Barão de Itapetininga, 275, fundos, tel. 011/231-4555, São Paulo).

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Agência Folha.

Hipocrates




"Os homens precisam saber que de nada mais além do cérebro vem alegrias, prazeres, divertimentos e esportes, e tristezas, desapontamentos, desesperanças e lamentações. E, por isso, de uma maneira especial, nós adquirimos visão e conhecimento, e nós vemos e ouvimos. E pelo mesmo órgão nós tornamos loucos e delirantes, e medos e terrores nos assaltam, alguns de noite e outros de dia … Todas essas coisas nós suportamos do cérebro, quando ele não é sadio."...........Hipocrates 460-355 a.C.

αλήθεια contemporânea

Eu estava vagando pelos canais sobre ocultismo e conspirações no youtube quando encontro esta palestra, a achei bem interessante, mas sem saber quase nada sobre aqui, sendo tudo aquilo praticamanete como algo novo para mim. Quando mostrei para algumas pessoas e por fim para meu professor de filosofia ele disse para tomar cuidado com videos de tais intenções de interdisciplinaridade, e me recomendou este livro. Seria de bom grado de todos ao menos ler este resumo. Pois é de tendencia estas interdisplinaridades. http://www.youtube.com/watch?v=d2Q_YaMPdko


O livro a todos os títulos importantíssimo está esgotado em Portugal. Daí que tenhamos considerado a oportunidade de publicar os dois textos seguintes introduzindo a obra desconhecida ainda de muitos

Imposturas Intelectuais - Alan Sokal e Jean Bricmont

A publicação deste livro em França parece ter criado uma pequena tempestade em determinados círculos intelectuais. De acordo com o que Jon Henley escreveu no The Guardian, mostrámos que «a moderna filosofia francesa é uma imensidão de disparates»

2. De acordo com o que Robert Maggiori escreveu no Libération, somos cientistas pedantes, sem humor, que corrigem os erros gramaticais das cartas de amor

3. Gostaríamos de explicar brevemente por que não concordamos com estas duas posições e de responder não só aos que nos criticam, como igualmente àqueles que nos apoiam com bastante entusiasmo.

O livro surgiu a partir de um já famoso embuste: um de nós publicou na Social Text, uma revista americana de estudos culturais, um artigo em forma de paródia com um amontoado de citações sobre física e matemática, sem nenhum sentido, mas infelizmente autênticas, da autoria de proeminentes intelectuais franceses e norte-americanos

4. No entanto, apenas uma pequena parte do dossier descoberto por Sokal durante a pesquisa bibliográfica que efectuou pôde ser incluído na paródia. Depois de termos mostrado o dossier na sua totalidade a amigos cientistas e não cientistas, convencemo-nos, pouco a pouco, de que valeria a pena colocá-lo à disposição de um público mais vasto. Pretendíamos explicar, em termos não técnicos, o absurdo das citações ou, em muitos casos, a simples ausência de sentido; pretendíamos igualmente discutir as circunstâncias que fizeram com que esses discursos alcançassem tal nomeada e tivessem continuado até então ocultos.Mas o que reivindicamos exactamente? Nem muito nem pouco. Mostramos que intelectuais famosos, como Lacan, Kristeva, Irigaray, Baudrillard e Deleuze, abusaram repetidamente da terminologia e de conceitos científicos, quer usando ideias científicas totalmente fora do seu contexto, sem para tal fornecerem a mínima justificação -note--se que não nos opomos à extrapolação de conceitos de uma área para outra, mas apenas à que é efectuada sem qualquer tipo de argumentação-, quer lançando o jargão científico à cara dos leitores não cientistas, sem considerarem a sua relevância ou mesmo o seu sentido. Não reivindicamos que esta atitude invalide o resto da sua obra, em relação à qual evitamos qualquer juízo.Por vezes somos acusados de sermos cientistas arrogantes, mas a nossa opinião sobre o papel das ciências exactas é, na realidade, bastante modesta. Não seria óptimo (quer dizer, para nós, matemáticos e físicos) se o teorema de Gödel ou a teoria da relatividade tivessem implicações profundas e imediatas no estudo da sociedade? Ou se o axioma da escolha pudesse ser usado para estudar poesia? Ou se a topologia tivesse algo a ver com a psique humana? Mas, infelizmente, nada disto é assim.O segundo alvo do nosso livro é o relativismo epistémico, nomeadamente uma ideia que, pelo menos quando expressa explicitamente, está muito mais espalhada nos países anglo-saxónicos do que na França: a ideia segundo a qual a ciência moderna não é mais do que um «mito», uma «narrativa» ou uma «construção social» entre muitas outras

5. Além de alguns abusos enormes (por exemplo, Irigaray), analisamos em pormenor uma série de confusões muito frequentes nos circuitos do pós-modernismo e dos estudos culturais: por exemplo, a apropriação abusiva de ideias da filosofia da ciência, tais como a subdeterminação da teoria pelas provas e pelos testemunhos ou a ideia de que a observação depende da teoria, para apoiar o relativismo radical.Este livro é, portanto, constituído por duas concepções distintas, embora relacionadas entre si. Em primeiro lugar, há a colecção de abusos extremos descobertos muito ao acaso por Sokal: são essas as imposturas do título desta obra. Em segundo lugar, há a crítica que fazemos ao relativismo epistémico e às concepções erradas de «ciência pós-moderna»: estas análises são consideravelmente mais subtis. A ligação entre estas duas críticas é fundamentalmente sociológica: os autores franceses das «imposturas» estão na moda em muitos círculos académicos anglo-saxónicos, nos quais o relativismo epistémico é o pão nosso de cada dia

6. Há também um vínculo lógico mais ténue: se se aceita o relativismo epistemológico, então há menos razões para se discordar das más representações das ideias científicas, que de qualquer forma não passam de um outro «discurso».É óbvio que não escrevemos este livro para realçar alguns abusos isolados. Os nossos alvos são mais vastos, embora não sejam necessariamente os que nos são atribuídos. Este livro ocupa-se de questões como a mistificação, a linguagem deliberadamente obscura, a confusão de pensamento e o uso abusivo de conceitos científicos. Os textos que citamos podem ser a ponta de um icebergue, mas o icebergue deveria ser definido como um conjunto de práticas intelectuais, e não como um grupo social.Suponha-se, por exemplo, que um jornalista descobre e publica alguns documentos que provam que determinados políticos altamente respeitados são corruptos. (Sublinhamos o facto de que isto é uma analogia, ou seja, não consideramos que os abusos aqui descritos sejam tão graves.) É claro que algumas pessoas concluirão de imediato que a maioria dos políticos são corruptos, ideia que será encorajada por demagogos que pretendem retirar dividendos políticos dessa conclusão

7. Mas tal extrapolação seria errada.Considerar este livro uma crítica generalizada às humanidades e às ciências sociais -como alguns críticos franceses fizeram- seria não só não compreender as nossas intenções, como também revelaria, numa curiosa assimilação, uma atitude de um certo desprezo para com aquelas áreas que estão na mente daqueles críticos8. Se formos lógicos, os abusos denunciados neste livro podem coexistir ou não tanto nas humanidades como nas ciências sociais. Se coexistissem, então estaríamos realmente a atacar em bloco essas áreas, o que seria justificado. Se não coexistem (como cremos), então simplesmente não há razão para criticar um académico por aquilo que diz outro académico da mesma área. De uma maneira mais geral, qualquer leitura do nosso livro como um ataque incondicional a X -seja X o pensamento francês, a esquerda cultural americana ou outra coisa qualquer- pressupõe que o todo de X está permeado pelos maus hábitos intelectuais que denunciamos e essa acusação tem de ser estabelecida por quem a efectua.Enquanto escrevíamos este livro, beneficiámos de inúmeras discussões e debates, tendo recebido muitos encorajamentos e críticas. Apesar de não podermos agradecer individualmente a todos os que deram a sua contribuição, queremos exprimir o nosso reconhecimento àqueles que nos ajudaram, apontando referências ou lendo e criticando partes do manuscrito: Michael Albert, Robert Alford, Roger Balian, Louise Barre, Jeanne Baudouin von Stebut, Paul Boghossian, Raymond Boudon, Pierre Bourdieu, Jacques Bouveresse, Georges Bricmont, James Robert Brown, Tim Budden, Noam Chomsky, Helena Cronin, Bérangère Deprez, Jean Dhombres, Cyrano de Dominicis, Pascal Engel, Barbara Epstein, Roberto Fernández, Vincent Fleury, Julie Franck, Allan Franklin, Paul Gérardin, Michel Gevers, Michel Ghins, Yves Gingras, Todd Gitlin, Gerald Goldin, Sylviane Goraj, Paul Gross, Étienne Guyon, Michael Harris, Géry-Henri Hers, Gerald Holton, John Huth, Markku Javanainen, Gérard Jorland, Jean-Michel Kantor, Noretta Koertge, Hubert Krivine, Jean-Paul Krivine, Antti Kupiainen, Louis Le Borgne, Gérard Lemaine, Geert Lernout, Jerrold Levinson, Norm Levitt, Jean-Claude Limpach, John Madore, Andréa Loparic, John Madore, Christian Maes, Francis Martens, Maurice Mashaal, Tim Maudlin, Sy Mauskopf, Jean Mawhin, Maria McGavigan, N. David Mermin, Enrique Muñoz, Meera Nanda, Michael Nauenberg, Marina Papa, Patrick Peccatte, Jean Pestieau, Daniel Pinkas, Louis Pinto, Alain Pirotte, Olivier Postel Vinay, Patricia Radelet-de Grave, Marc Richelle, Benny Rigaux-Bricmont, Ruth Rosen, David Ruelle, Patrick Sand, Mónica Santoro, Abner Shimony, Lee Smolin, Philippe Spindel, Hector Sussmann, Jukka-Pekka Takala, Serge Tisseron, Jacques Treiner, Claire Van Cutsen, Jacques Van Rillaer, Loïc Wacquant, M. Norton Wise, Nicolas Witkowski e Daniel Zwanziger. Agradecemos igualmente aos nossos editores, Nicky White e George Witte, pelas suas sugestões valiosas. Sublinhamos que estas pessoas não estão necessariamente de acordo com o conteúdo ou mesmo com a intenção desta obra.Finalmente, agradecemos à Marina, à Claire, ao Thomas e ao Antoine por nos terem apoiado durante os últimos dois anos.Estamos muito contentes por este livro ser agora editado em Portugal. Esperamos que a partir dele possa ser desencadeado e estimulado neste país um debate fecundo e produtivo sobre as ideias nele contidas. Gostaríamos de exprimir a nossa profunda gratidão aos tradutores portugueses, Nuno Crato e Carlos Veloso, que colaboraram connosco com dedicação na preparação desta tradução e inseriram pacientemente no texto todas as nossas últimas indicações, alterações e melhoramentos.Prefácio à Edição PortuguesaSite de Alan Sokal: http://vesuvius.physics.nyu.edu/faculty/sokal/index.html

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Eu não sei o que Deus é,
mas sei o que Ele não
é


continuação...

O problema por conseguinte, é este: para que o homem possa transformar-se radicalmente, fundamentalmente, torna-se necessária uma mutação nas próprias células cerebrais de sua mente. Dizem-nos que devemos mudar, que devemos agir, que devemos transformar nossa mente, nosso coração, tornar-nos uma coisa totalmente diferente. Isso vem sendo pregado há milhares de anos por homens muito sérios, muito ardorosos, e também por charlatães interessados em explorar o povo. Mas, agora, chegamos ao ponto em que não há mais tempo a perder. Compreendei isto por favor. Não dispomos de tempo para efetuar gradualmente tal transformação. Os intelectuais de todo o mundo estão reconhecendo que o homem se acha à beira de um abismo, na iminência de destruir a si próprio. Nem religiões, nem deuses, nem salvadores, nem mestres, nem as lenga-lengas dos gurus, poderão impedi-los. Dizem os intelectuais ser necessário inventar uma nova droga, uma 'pílula dourada' capaz de produzir uma completa transformação química; e os cientistas provavelmente descobrirão esta droga. Não sei se estais bem a par dessas coisas. Ora conquanto o organismo físico seja um produto bioquímico, pode uma droga, uma superdroga fazer-vos amar, tornar-vos bondosos, generosos, delicados, não violentos? Não o creio; nenhum preparado químico pode fazer os homens amarem-se uns aos outros. O amor não é um produto do pensamento; também não é cultivável, como a flor que cultivamos em nosso jardim. O amor não pode ser comprado numa drogaria, e o amor é a única coisa que poderá salvar o homem - e não os artifícios das religiões, nem seus ritos, nem todos os exércitos do mundo. Podemos fugir, assistindo a concertos, visitando museus, entregando-nos a divertimentos de toda ordem - debalde! - porque o homem se acha hoje em dia em presença de um tremendo problema: se tem a possibilidade de transformar-se radicalmente, de efetuar uma total mutação de sua consciência, não amanhã, nem daqui a alguns anos, mas agora! Eis o problema principal: se o homem, em qualquer país que viva, com todas as suas belezas naturais, é capaz de operar uma mutação radical em seu interior, imediatamente. E não podeis resolvê-lo com vossas crenças, vossas ideologias, vossos deuses, salvadores, sacerdotes e rituais. Essas coisas já não tem o menor significado. Podemos ir longe, se começarmos de muito perto. Em geral começamos pelo mais distante, o "supremo princípio", "o maior ideal", e ficamos perdidos em algum sonho vago do pensamento imaginativo. Mas quando partimos de muito perto, do mais perto, que é nós, então o mundo inteiro está aberto — pois nós somos o mundo. Temos de começar pelo que é real, pelo que está a acontecer agora, e o agora é sem tempo.

… Falamos da vida — e não de idéias, de teorias, de práticas ou de técnicas. Falamos para que olhe esta vida total, que é também a sua vida, para que lhe dê atenção. Isso significa que não pode desperdiçá-la. Tem pouquíssimo tempo para viver, talvez dez, talvez cinquenta anos. Não perca esse tempo. Olhe a sua vida, dê tudo para a compreender.

Jiddu Krishnamurti


"Não é demonstração de saúde ser bem ajustado a uma
sociedade profundamente doente."

Platão




"Um grão de Filosofia dispõe ao ateísmo; muita Filosofia reconduz à religião"

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O Fédon


A origem dos problemas filosóficos

Sócrates, um filósofo grego que viveu entre 470 e 399 a. C., foi condenado à morte. Horas antes deste ingerir o veneno vários amigos foram ter com ele à prisão. Estavam tristes e revoltados, pois consideravam Sócrates o homem mais justo e sensato que conheciam e entendiam que as acusações contra ele eram falsas. Platão (discípulo e amigo de Sócrates) descreveu as últimas horas de vida de Sócrates num livro chamado Fédon.
Enquanto conversavam, é referido o problema da alma ser ou não imortal: será que a morte é o fim de tudo ou, pelo contrário, depois dela existe uma outra vida? Os amigos de Sócrates insistem para saber o que pensa ele sobre isso. Sócrates aceita examinar o problema e diz: "...talvez nada seja tão apropriado para aquele que vai partir para o Além como reflectir e discorrer sobre o significado desta viagem e o que imaginamos que seja". (Platão, Fédon, 5ª edição, Lisboa Editora, 1997, pág. 45.)
Sócrates, tal como outros filósofos, foi algumas vezes acusado de andar com a cabeça nas nuvens e de se interessar por assuntos inúteis e desligados da vida. Assim, ao dizer que, uma vez que vai morrer, reflectir acerca da morte e do sentido da vida é “apropriado” está a dizer que esse assunto não é exterior à vida humana.
Ora, tal como Sócrates, nós também somos mortais. Também vamos morrer um dia. Por isso, faz sentido – é “apropriado” – que reflictamos acerca da morte e do significado da vida. Para nós, a morte não é um assunto inútil e desligado da vida. É um assunto que se impõe a partir da nossa experiência.
Esse raciocínio pode estender-se a outros problemas filosóficos. Os problemas filosóficos são problemas que se impõem a partir da nossa experiência e não assuntos demasiado abstractos, inúteis e desligados da vida. Por isso, é apropriado reflectirmos acerca deles.
Eis alguns exemplos.
Temos amigos, por isso é apropriado reflectir acerca da amizade. Queremos ser felizes, por isso é apropriado reflectir acerca da felicidade. Dizemos muitas vezes que certas coisas são belas e outras feias, por isso é apropriado reflectir acerca da beleza. Argumentamos, por isso é apropriado reflectir acerca dos argumentos e daquilo que os torna correctos ou incorrectos. Utilizamos diariamente palavras como “verdadeiro”, “falso”, “justo” e “injusto”, por isso é apropriado reflectir acerca da verdade e da justiça. Etc.
Sendo assim, estudar filosofia e reflectir acerca dos problemas filosóficos não é perder tempo com assuntos demasiado abstractos, inúteis e desligados da vida, mas sim tentar esclarecer problemas que, pelo contrário, fazem parte da nossa vida. Ao estudar filosofia e ao reflectirmos sobre esses problemas tornamo-nos conscientes de coisas que, sem sabermos, já existiam na nossa vida.
À entrada do templo de Delfos, na Grécia, estava escrito um conselho que Sócrates considerava fundamental: “Conhece-te a ti mesmo”. Filosofar é uma forma de o pôr em prática.
*-*-*-*
No Dúvida Metódica existem vários posts com a etiqueta “Sócrates”, dos quais o mais útil para alunos do 10º ano é este: Conselho de Sócrates: pensem bem antes de me darem razão.
Na imagem: quadro de Jacques Louis David - "A morte de Sócrates", de 1787.

Sócrates




"Uma vida sem busca não é digna de ser vivida"

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Willian Blake



"Se as portas da percepção fossem limpas, tudo apareceria ao homem como realmente é: infinito"

PLACEBO!

“A religião não é o ópio do povo. A religião é o placebo do povo”


Frase simples, e direta, apesar de ser óbio para mim, é sempre bom relembrar disto!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Entrevistada a escritora Maria Nívea





Momentos extremos de meu encontro com Raul Seixas, o eterno amigo
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O festival de Iacanga estava lotado esperava ver Raul no palco, estava chovendo e não ia conseguir ver direito, na época já andava com uma caderneta de anotações e iria tentar pegar tudo que sentira nas entrelinhas para conversar com ele novamente.
Não consegui passar e então subi naqueles postes imensos. Raul entrara totalmente alcoolizado. Mas em maluco beleza falou: estou fazendo um grande vestibular para isso ao mesmo tempo em que como todos, vibravam em vê-lo ali, mas a frase “eu estou fazendo um grande vestibular” para isso me fez pensar muito.
O que você quer que eu largue isso aqui é só me pedir largo de ser coruja, para ser sua cotovia, pra você ser feliz. Puxa estava claro. Era mesmo um romântico inveterado. Sua adoração pela mulher acho que era a busca mais verdadeira, sei que tinha casado com Edith, gloria Walker, Lena Coutinho. Raul buscava o amor.
Mas sabendo de seus diagnósticos tinha que pensar, como? Fez uma poesia aos insones maníacos. Raul definitivamente não dormia. Mesmo com Valium, diempax e trypitanol.
E escrevia pelas paredes. Quantas vezes não aconteceram desentendimentos por causa disso, bebendo ou não. Já possuía o enorme chavão. Raul tomou todas. Levemos isso em consideração.
Raul tomou todas com mais três remedios psiquiátricos. Não que é era de fato doente, mas com tamanha insônia passou varias vezes por psiquiatras que segundo o mesmo só queria adaptá-lo.
Era portador de uma hiperatividade e de uma genialidade fora do comum e de vez em quando me falava uma coisa que pra mim hoje é de fácil entendimento a cabeça pensa, não para de pensar e o corpo não acompanha.
E quanto que aquele corpo ainda ia ter de acompanhar uma cabeça que tinha que dizer vá e grite ao mundo que você esta certo.
Raul queria falar ao ser humano e nada o impediria. Lembro um dia meio sentado, meio deitado naquela cadeira do bar da tiete quando Raul falou de uma de suas paixões, astronomia e quão lindo era o eclipse Raul por coincidência veio a falecer no dia 21/08/1989.
Um dia que teve um eclipse total da lua eu me pergunto sempre, será que ele estava avisando? Bem vou deixar essa questão pra mais tarde. Eu estava fazendo teatro e não tinha muito mais tempo.
Estava cheia de livros de filosofia e devorava um por um, os quais me foram indicados por ele, como principalmente Bhagavad-Gita.
O moleque maravilhoso, que quando consegui ir ao bar me dava um sorrisinho simples, Sincero, e falávamos agora sobre fenômenos sobre naturais.
Não tenho duvida que Raul procurou seitas e etc. para entender tantas manifestações em sua vida, as quais segundo ele eram naturais.
Um homem, diabético, remédios, o alcoolismo cada vez mais forte e suas perguntas, e segundo ele, dizia sua missão de acordar o mundo.
Tem vez que me dava vontade de sacudir Raul, mas, ele bem sabia do estereotipo que viria ser para agradar tanta gente.
Todos esses dias estavam muito calor e Raul sempre de jaqueta de couro e bota de camurça. Parecia naquela época que isso queria dizer ser maluco, ele tinha se tornado um ídolo o porta voz de uma juventude solitária.
A minha enfermeira tem mania de artista, trepa em minha cama crente que é uma trapezista. Pois é Raul tinha uma enfermeira que o acompanhava. Seu nome era Dalva.
Bem, ele tinha que entender porque estava vivo, mas como aos onze anos de idade já desconfiava da verdade absoluta, já compunha musica alem da sua idade.
Tenho um filho de treze anos e sei como é. Com que faixa etária são normais as coisas se desenvolverem.
Ele estava muito alem da sua idade. Paranóia? Hoje é dia que passara uma musica no fantástico, a qual, dizem que é inédita a musica diz uma frase que é a seguinte: “por que tudo que é bonito está trancado num museu?” é irreverente, mas por quê? Por isso da pra entender de varias formas, só foi uma maneira dele se expressar.
Sempre dotado de sua genialidade. Tudo que é bonito principalmente naquela época era proibido, trancafiado.
Olha os livros na estante que nada diz de importante. Pois é seu pai Raul Varela seixas era um leitor nato e Raulzito devorava um por um.
Sempre me falava de livros e livros tinham mesmo muita afeição no que se diz respeito à família. Lembro Pedro aqueles velhos dias. É hoje eu te chamo de careta e você me chama vagabundo, era para o irmão mais novo: Plínio o qual admirava de uma forma intrigante às vezes parecia que gostaria muito de levar a vida como Plininho.
Mas os 40 ladrões estavam ali e Raul não podia se conformar. Abre-Te Sésamo foi um pedido e critica ao mesmo tempo a ditadura que vetavam suas letras como o satiro “rock das aranhas” e eu compreenda.
Meu Deus e se quisesse publicar tudo que escrevo e viesse a policia atrás de mim por causa de uma musica? Cada vez mais inconformado.
Estava claro, não ia parar por ali se hoje a democracia e liberdade de expressão não são tão verdadeiras assim imaginem, naquela época cabeça num turbilhão.
Eu calço é 37 meu pai me dá 36, todo mundo explica. Em cada musica de Raul ha uma referência a essa questão bem ele encostado-se àquela cadeira, aquele dia resolveu me falar da família, e pelo sufoco que passara no rio.
Da onde e como saiu o polemico grã ordem kavernista? Ele era assim, se lembrava de muitas coisas ao mesmo tempo ia muito ao prédio só para ver a vivi e comentava com ele vi no seu olhar uma mistura de tristeza e orgulho.
Dorme enquanto seu pai faz musica, que é a forma dele rezar, é verdade. Lembro que me contava que as vezes que fora internado, Vivi escrevia bilhetinhos para ele, me contava com lagrima nos olhos.
Sou paulista e acho engraçado lembrar sua gíria preferida, como ele chamava todo mundo, Bicho, ele não falava em nomes , então também nem perguntava, queria falar dele como se estivesse em um divã mesmo.
Quantas vezes eu vi meu trono desabar cedendo às tentações de Ângela. E estava clara a paixão de Raul Seixas por Kika e principalmente a esperança dessa vez de viver uma família.
Eu tenho uma viola que canta assim, minha dor ela consola, dilim-dilim, essa musica retratava bem o orgulho que sentia por seu Varela, seu pai.
E minha mãe pertence ao exercito da salvação, mamãe eu não queria servir o exercito.
Para aquela época podia até ser uma irreverência, mas meu filho não vai bater continência para sargento nenhum.
Percebem? Hoje ainda temos que ver nossos filhos servir o exercito se para fazer sucesso todo mundo tem que aclamar, essa parecia a chave mesmo, vamos ver gora quem é que vai agüentar.
Reclamar, reclamar e reclamar o que está tão claro. O respeito pelo cidadão é realmente só um resumo, pois se fossem citar tudo, essa matéria nem sairia.
Com os dedos trêmulos, sempre um cigarro entre os dedos, um olhar absorto ia me contando as coisas que cito aqui.
Sempre me chamando de minha aquarianinha isso pra ele era tão importante a musica do trem, O novo EON (AEON), pra ele era missão do signo da nova era.
Sei que estudei astrologia, metafísica, tudo que ele se referia, eu ia buscar informações. Mas queria mesmo fazer artes cênicas e ia buscando oficinas em todos os lugares.
Quando assisti o baú do Raul fiquei apaixonada pela performance de baia na musica ouro de tolo, mas as passagens da minha vida me faziam escrever mais e, mas.
Como queria que estivesse vivo para lhe mostrar tudo que tenho escrito. Eu, Corujinha, Rafael, Gisele e Miguel estavam ansiosos quanto ao show de Raul no SESC Pompéia.
Íamos muito á shows no SESC, era um programa da TV cultura, era incrível, pois o palco era baixinho e você ficava muito perto do artista.
Queríamos chegar bem antes para ver se pegávamos um lugar bem próximo, fizemos isso, nossa, todos meus amigos estavam ali, gritávamos sem parar ao vivo ao vivo, pois iria passar ao vivo na TV.
Estava namorando o Rafael. É emocionante lembrar agora desse show, quando Raul entrou no palco, me lembro que aquele dia entrou com uma energia tão boa, parecia que queria todo mundo no palco com ele.
Antes de ele entrar um pessoal cantou maluco beleza no palco, Raul aquele dia estava a flor da pele, na verdade o show fora em playback e ele fingia que cantava, começou cantando prelúdio e quando vi um pessoal se aglomerando para cantar prelúdio junto, peguei na mão do Rafael e entramos bem no meio, abracei meu amigo Raul, segurei no microfone e cantamos prelúdio todos juntos.
Tive varias imagens nesse show com Raul, eu, Gisele, Corujinha, Miguel. Rafael entramos no camarim, ficamos ali, Raul estava brincalhão e já tendo me reconhecido desde o começo, pois consegui o lugar que ficava mais perto do artista, estava bem solto também, nada de cair no palco, estava bem.
E no camarim nos despedimos ia passar o show inteiro na TV no dia seguinte. Ah eu toda orgulhosa chamei minha mãe para ver comigo, a qual botava a culpa do meu tão natural crescimento em Raul seixas.
Foi quando, todos sentados na sala aguardando o começo vimos na abertura do show um beijo lindo. Eu e Rafael foi a imagem que escolheram para abrir o show do Raul, eu levei um tapa da minha mãe que não esqueço jamais, sua linda filhinha de dezessete anos apareceu na TV aos beijos com o namorado, Pois é.
Dois homens fumando juntos pode ser muito arriscado. Uma filha aos beijos na TV então ele passou o show inteiro. Prelúdio como já contei imagens de varias musicas que apareço abraçada com Raul e para o meu susto terminaram o show com a mesma imagem, o beijo.
Algum tempo atrás fui à busca desse vídeo, quero guardar as imagens que tenho com Raul seixas, consegui o vídeo o qual para minha surpresa a única imagem minha que existe é cantando prelúdio no começo.
Onde estaria o resto do show? O qual durara por volta de uma hora e me foi vendido meia hora de vídeo? Sem minhas imagens, ai escrevi para kika Seixas, a qual me mandou um cartão muito simpático dizendo que eu a lembrava da fase mais bonita que tivera com Raul.
Emocionou-me saber desse fato, Saber que para ela era uma imagem viva que a fazia recordar a fase mais bonita que passara com Raul.
Puxa mas onde foi parar as imagens daquele show? Foi me dito que teria que reivindicar as imagens com Edith, Gloria, Simone e Scarlet, as mulheres e filhas americanas.
Não, definitivamente não acreditei nisso, e como sempre prometi aos meus filhos que iria conseguir e deixar para eles essa lembrança viva de sua mãe com Raul Seixas, afinal ouvem muito á Raul.
Preciso saber exatamente aonde ir para conseguir copia destes vídeos, Sei que existem, será que a solução ainda é alugar o Brasil? Todo ser humano tem direitos as suas imagens, sou vacinado, e, eu sou cowboy.
Durango kid só existe no gibi, entrar pra historia é com vocês. É mas ou menos isso, Raul me ensinou, não pense que a cabeça agüenta se você parar.
Não vou parar de buscar minhas imagens com meu amigo e psicólogo, hoje entendo bem nossos papos, um com o outro, Há uma voz que canta ha uma voz que dança,ha uma voz que gira, pairando no ar.
Basta ser sincero e desejar profundo. Essa musica alem de muitas coisas hoje me da à maior força pra conseguir minhas imagens com meu amigo Raul Seixas.
Ah mais mistérios entre o céu e a terra do que nossa ignorância possa imaginar. Logo depois desse show, meu príncipe voltara no seu cavalo branco.
Decidimos acampar, já estávamos no começo de 1984, nossa como tinha coisas para contar a ele.
Fomos para Puba, mas antes tinha que ir ver Raul. Foi fácil encontra-lo a esquina, o bar da tiete, o mesmo dono, a mente irrequieta, o cigarro nas mãos tremidas, e me pareceu um ar de espera, será que Raul previa me sentar ali como de costume? E quem falou fui eu, não parava de falar na volta de Ronaldo, o príncipe da adolescência.
Engraçado que Raul naquele dia quase não falou. Eu falava em amor sem parar, como nos conhecemos. Porque nos separamos, aonde nos conhecemos e que sempre falávamos em nos casar.
Ele ouvia e de vez em quando balbuciava alguma coisa, estava incomodada de ver ele quieto sem dar palpite e comecei a falar que a gente cantou junto no SESC, e que foi muito legal em dar um autografo na bolsa do Rafael, mas ia partir.
Na verdade hoje sei que era nosso ultimo encontro. Eu e Ronaldo fomos acampar em Puba queríamos e precisávamos sumir de tudo e de todos.
Passamos uns tempos por La, parecia conto de fadas mesmo, até que comecei a sentir muita fome. Engravidara tínhamos que voltar.
Baby? Deus não é tão mal assim. Minha vida segui outro rumo meu príncipe encantado perdera todo encanto e Raul se mudara sabe deus pra onde.
Mudei de cidade e mesmo assim continuara fazendo teatro e lendo muito. Até que certo dia o ouvindo Jornal Nacional veio a noticia “morre o cantor Raul Seixas, vitima de uma parada cardíaca em conseqüência da pancreatite”.
Sei que Raul mandou Dalva (enfermeira dele) para outro quarto e não tomara insulina já avisada de uma possível parada cardíaca. Não sei bem o que quero dizer com isso,sei que ouvi panela do diabo sem parar, e saquei que Raul se despedia.
Em todas as musicas muitas mulheres eu amei e com tantas me casei. Mas agora é Raul seixas que Raul vai encarar estou sempre tentando aparar cabelo de alguém, não sei por que nasci para querer ajudar o que não pode ser.
Acompanhava tudo e sei que Raul já não agüentava mais, mesmo de longe agora era como soubesse de cada uma das suas palavras, plunct, plact, zum não vai ha lugar nenhum.
Mas foi se foi numa noite de eclipse. Calei-me. Precisava de muito tempo em reflexão lembrando-se da forma como ele falava acho sinceramente que Raul queria partir.
Estava doente demais. O palco não era mais lugar de Raul seixas. E tudo que ele sentia mais profundamente guardara dentro de um baú, e eu ao mesmo tempo dentro de mim mesma.
Acompanhando de longe as passeatas, shows, eventos, idolatrias, Raul virou Deus,definitivamente não era o que queria, “só pregava pregos e por sinais muito mal pregados” vou te encontrar vestida de cetim, pois em qualquer lugar espera só por mim.
Morte, morte, morte. Que talvez seja o segredo dessa vida. Hoje ouço que Raul era anticristo que todo mundo que se droga diz que é para ficar “maluco beleza”, que ele foi excomungado.
Dói no fundo do peito, Ele não agüentava a realidade? Nem eu. Caminho fazendo o que ele mais queria que fizesse, sou escritora e só agora, sem meu amigo há 20 anos queria deixar claro para tantos seguidores de um ser humano tão sofrido e fenomenal uma única frase “não julgueis, pois tudo acaba onde começou”.

20 anos sem Raul

Ferve incessantemente em minha mente.
Réquiem para uma flore mesmo tentando tantas vezes
Sou guerreira e não parei na pista.20 anos a provar o vinagre e o vinho.Num labirinto de ausência.Do grito alternativo.Faz tempo esse eclipse.Onde a lua escureceu.E só pra variar fiz poesia desse tempo.É Raul precisa-se de fiador,
Não deram solução no Brasil.E a minha paranóia só relaxo,em doses de capim guiné.Lembro seu olhar inquieto naquele bar,sinto o dia da saudade.Hoje não deveria ter aula pra garotada.Mas caminho com o grito de krig-há.Ainda procuro minha cidade e minhas estrelas.Mais o negocio é.o ouro do tolo ainda insiste em me comprar.Me leve à fonte... Mesmo que seja de noite,
Para que meu organismo se inunde da consciênciaque sou aquilo que faço.O diabo continua dando s toques.Já que todo mundo explica, mas não tem explicação.Sou a falta do que precisapara compreender o vazio.Dou o recado pelos astrospor homens deve ser muito arriscado.A falta de visão é maior,a mosca é terrorista.O papa não se tocou.E eu sinto que esta acabando.
Ando de passo levea cabeça não agüenta.possuo a chave da abertura para os dois ladosa cabeça pensa,o corpo não acompanhao grito alternativo,sempre preso na gargantae a chuva ainda promete não deixar vestígios.
Créditos:
Produtor/repórter: Claudio Deno
WWW.youtube.com/claudiodeno

http://dennys25.blog.dada.net/

KIKA

Kika Seixas a Guardiã do Baú

Kika Seixas, a única ex-mulher de Raul Seixas que mantém ligação direta com a obra do artista, revelou em entrevista feita em sua casa, no Rio, detalhes da vida a dois nesse casamento que durou cinco anos.
Apontada por alguns inimigos como "aproveitadora" do legado do ex-marido, dá de ombros. Defende seu trabalho como fundamental para que a imagem de Raul se mantenha viva.
Kika conheceu Raul com 27 anos, quando, segundo ela mesma, era "linda e maravilhosa" e mantinha um relacionamento com o então chefão da Warner no Brasil, André Midani. Largou-o por Raul, com quem acabou tendo uma filha, Vivian, hoje com 18 anos. Passados cinco anos, deixou-o também: "Ele começou a cheirar éter, aí foi demais". Atualmente casada com João Carlos de Paranaguá, produtor, com quem mantém excelente relacionamento, Kika não esqueceu de Raul. "Ele foi e sempre continuará sendo importante para mim. Até por isso continuarei trabalhando pela sua obra."
A ingenuidade"Ele vivia 24 horas o artista Raul Seixas. Não tinha um distanciamento, o que até criava problemas. Dormia e acordava de botas e óculos escuros. Essa ingenuidade era um negócio muito genuíno dele, talvez até um pouco demais da conta. Os artistas atuais têm um distanciamento maior, acho que foi aí que ele se perdeu..."
A Sociedade Alternativa"Gozado, não sei se o Raul tinha dimensão do que era isso. Ele era apolítico, então, sinceramente, não sei o que pretendia com isso, acho que era só um sonho. Até hoje, pessoas me perguntam isso, o que é a Cidade das Estrelas, se ela existiu. Acho que a Sociedade Alternativa ficou sendo mais uma pessoa, mais um ponto de vista do público dele do que dele mesmo. Eu me lembro que uma vez magoei muito o Raul, quando disse: 'Isso aí é um papo completamente impossível, que Sociedade Alternativa é essa, cara? Como é que você quer criar algo, em que bases, o que é isso, que palhaçada é essa? Sociedade Alternativa porra nenhuma, você não é capaz de gerir a sua própria vida, a sua família'. Ele ficou arrasado naquele dia, deprimido."
Últimos momentos"Ele morreu cheirando e bebendo. No último fim de semana tinha cheirado e bebido e, como nos finais de semana a empregada não ficava em casa, e era ela quem o pressionava para tomar as injeções de insulina, não resistiu. Cara, o Raul detestava aquelas injeções de insulina. Não há nada menos rock'n'roll que o cara ter de se medicar, entendeu? Raul detestava isso e a empregada, a Dalva, enchia tanto o saco dele que ele acabava se aplicando. Foi opção dele, entendeu? Inclusive o Marcelo Nova, no final, montou um esquema de segurança para proteger o Raul e ele detestava aquilo. Dizia: 'Poxa, você viu os seguranças, os trogloditas que estão lá fora, uns caras agressivos pra caramba!' Mas era tudo para não deixar ninguém chegar perto do Raul e dar cocaína ou bebida pra ele, mas ele ficava arrasado. Era aquilo que ele queria. O fim da vida de Raul foi uma tragédia. Raul estava feio, gordo, não tomava mais banho, não andava, se arrastava, não cantava mais, estava sem dentes. Olha, no final da vida, na intimidade, eu vou te contar, ele me chamava para dormir e eu ia lá, o Raul fazia xixi nas calças, o álcool já tinha consumido tudo. Ele não comia, era uma tragédia, eu olhava para a vida de Raul e, de certa forma, dei graças a Deus por ele ter morrido, eu não sei o que seria a vida dele se estivesse vivo."
O público e a imprensa"Quando faço o Baú do Raul (show promovido por ela) é óbvio e lógico que vem um monte de coroas e tal, mas quem mais vem é a garotada. E ainda tem um pessoal que 'recebe' uns santos e diz que eu estou incomodando a alma do Raul. Que ele precisa descansar, que preciso parar de fazer shows etc. agora mesmo me mandaram um livro que fala do roqueiro do além. É um escândalo, bicho. O cara não diz que é o Raul, mas dá a entender que é o Raul. Mas não é, porra nenhuma, não tem Raul nenhum ali, é uma coisa estranhíssima. O tal do roqueiro do além não tem nada a ver com o Raul. O verdadeiro Raul tá adorando tudo isso que a gente faz... Quem criou o mito foi o público, o povo. Eles que trouxeram o Raul de volta, porque os jornalistas, a mídia, estava meio assim porque ele tinha criado uma tarja de inconsequente, alcoólatra, viciado, irresponsável e, quando ele morreu, a mídia preferiu ignorá-lo, como já vinha fazendo no fim da vida dele e, mesmo assim, vendia as 100.000 cópias dele. Mas eles tiveram de dar a mão à palmatória até porque no enterro, na Bahia, eram 5.000 pessoas, uma loucura. Uma hora o caixão fugiu, foi indo embora e aí dona Maria Eugênia falou: 'Deixe, deixe que levem o meu filho, eles que enterrem meu filho'. Quando fomos ver, o caixão já estava duzentos metros à frente, sendo enterrado pelo povo, pelo público dele. Em São Paulo, foi a mesma coisa. O público só deixou o funeral sair quando veio o corpo de bombeiros.
Encontro com John Lennon"Essas histórias são fantasias, fantasias."
Sempre ligado"Ele sempre bebeu. Dizia que desde os doze anos tomava uns porres em um lugar chamado Cantinho da Música. Ele sempre teve muita dificuldade de conviver com a realidade, ficava sempre deprimido, tomava Diempax e outras bolas. A realidade para ele era demais, demais mesmo. Ele também deixava todas as luzes da casa acesas porque tinha horror a dormir. Estava sempre ligado, bicho. Achava perda de tempo dormir. Dormia demais quando estava deprimido, podia passar o dia inteiro dormindo, entendeu? Mas dormia pouco. Tipo, quando dormia à meia-noite, às 4 da manhã estava feliz da vida, acordado. Aí, pegava a Vivian e trazia para eu dar de mamar. Estava sempre acordado."
A relação com Paulo Coelho"Eu vivi seis anos com o Raul, ele sentia falta, digamos assim, daquele período de criatividade intensa, o Paulo é um homem inteligente, mas o Raul fez questão de criar um distanciamento mesmo do Paulo, eu não sei por que e também não gosto muito de falar sobre isso, acho que isso acaba virando fofoca."
As drogas"Ninguém consegue viver com o álcool e as drogas o dia inteiro e depois, à noite, ir fazer show ou gravar um disco. Quando ele ia gravar, às vezes ficávamos um mês no estúdio. Ele se trancafiava cheirando cocaína durante cinco dias seguidos e no sexto, sétimo dia ia para o estúdio. Qual é o ser humano que consegue isso? E o fato é que realmente saíam obras-primas, saiu Gita, Aluga-se, saíram todas, mas no sétimo dia, bicho, alguma coisa ia ficar ruim, ou o pâncreas dele ia pras cucuias, como foi. Mas tudo por conta da arte, nunca vi o Raul cheirando ou bebendo para bater um papinho ou ficar doidão, não, o negócio era compor que nem um louco..."
O Rock das 'Aranha'"Estávamos em Miguel Pereira com o Cláudio Roberto (um dos mais importantes parceiros de Raul). Estava, ele, a Ângela, mulher de Cláudio, e nós. Fomos passar o fim de semana com eles, coisa de amigo mesmo. Mas bastava se encontrarem que os caras compunham. Nesse final de semana, eles fizeram Ângela, obra-prima, para mim e para a Ângela, porque eram duas Ângelas. Fomos dormir e no dia seguinte, quando eu e Ângela acordamos, tinha o Rock das 'Aranha' pronto. A Ângela, caretérrima, achou um horror a música. Eu de cara achei genial. Foi assim a história."
O lado machão"O Raul tinha horror a lésbica, tinha horror a viado, nesse sentido era a pessoa mais careta que eu vi na vida. Boiola não podia nem chegar perto, o Raul ficava incomodado, saía da sala, ficava piscando, fazendo trejeitos. Por isso digo que o Rock das 'Aranha' foi pura sacanagem, só. Por isso, essa fofoca que rolou por conta de o Paulo Coelho ter dito que tentou transar com um outro homem duas vezes não tem nada com o Raul. Isso é sacanagem. É foda, cara: até o João, meu marido, me acordou quando saiu essa matéria, dizendo: 'Kika, o Raul era viado, tá escrito'. Eu disse: 'Não fala bobeira, João. Ele era porreta'. 'É viado, é viado, tá escrito aqui!', ele insistiu. Mas eu garanto, não foi com ele que o Paulo teve essa relação."
A dependência química"Ele acordava cedo, ia para o bar e tomava vodca com Coca-Cola. Isso às 9 horas da manhã, ficava um pouco no bar, e quando dava 11 horas voltava para casa, tomava o café tradicional, depois ia para o bar novamente beliscar uma língua ou carne assada. Voltava ao meio-dia, ouvia som e caía duro na cama. À tarde precisava de alguma coisa na agenda para fazer, para preencher o dia, senão descambava, mas para levantar tinha de ter o combustível."
As parcerias"Eu não sou burra, bicho, sou uma mulher inteligente. De repente, o Raul dizia 'vamos compor' e eu topava. Ele dava uma palavra, eu outra, e aí rolava a frase. Mas, muitas vezes deixei de botar o meu nome em parcerias porque achava que ficaria ruim para o Raul ter mais de uma parceria, deixei de ganhar dinheiro. Se tivesse colocado, hoje teria direito aos direitos autorais. Achei que ficaria melhor para a imagem dele. Aluga-se é minha, Abre-te Sésamo é minha, Só pra Variar é minha; eu estava lá nesses momentos. Mas achava que não devia deixar o público saber que foi feito por outra pessoa, mais uma mulher, mais um parceiro. Achava que tinha de preservar o Raul, bicho... eu amo o Raul. Ele até me falava: 'Kika, a gente tá deixando de ganhar dinheiro. Se você diz que a música é só minha e de outro cara, a gente ganha metade e metade. Se você disser que a música é de Raul, Kika e o outro, vai ficar um terço pra cada um'."
Os direitos autorais"Hoje ele rende U$ 120.000,00, cara, 120.000 dólares para as herdeiras por ano. Quando peguei para tocar, elas só recebiam 50.000 dólares, por isso acho que ajudei bastante. O Raul é a terceira maior execução do Brasil. Desde botecos até os shows. É, bicho, depois que comecei a assumir esse trabalho gratuito, de gerenciar o trabalho do Raul, as coisas começaram a ser pagas direitinho. E isso não reverte nada para a minha firma, nenhum tostão, só a minha filha que recebe. E eu quero receber, sim, 5, 10 ou 15 porcento como agenciadora disso. As outras filhas dele não sabem nada do que acontece, os advogados delas não sabem nada, só recebem. Só recolhem o que é depositado. Por isso vou entrar na Justiça pedindo o que é meu de direito. Isso só acontece porque as herdeiras não estão sabendo o que está ocorrendo, porque os advogados não têm interesse de passar para elas que existe uma pessoa que trabalha e que vive Raul, e que trabalha para o nome Raul, senão a percentagem deles ia ser provavelmente diminuída. Se tem uma pessoa que realmente trabalha Raul Seixas, divulga, então por que os advogados ganham 9 porcento? Como eles não querem diminuir essa soma, então fui para a Justiça, estou botando todo mundo na Justiça, inclusive minha filha."
Material inédito"Sim, tenho, sem dúvida, porque compro coisas quando sei que são inéditas, porque quero deixar coisas para a minha filha poder ter algum retorno no futuro. Por isso não fiz um CD-ROM nem um filme. Estou guardando isso para a Vivi (Vivian)."
Frágil e forte"Ele era extremamente frágil, de um lado, e corajoso, do outro. Ficou quatro meses entubado no hospital Albert Einstein e nunca vi esse homem reclamar. Nem dar um ai. Ele não comia, só tomava injeção. Quatro meses deitado numa cama. É isso que eu digo, nessas horas ele era uma força gigantesca. Passou dois anos sem gravar e nunca vi Raul dizendo: 'que merda a minha vida'. Ele foi uma fortaleza até mesmo no final da vida. Mesmo do jeito que ele estava teve coragem de tentar me seduzir. Precisa ser muito homem pra fazer isso na situação em que ele já se encontrava."

Sociedade Alternativa


Sociedade Alternativa faz parte de uma filosofia, defendida por Raul Seixas, baseada nos Escritos do ocultista Aleister Crowley e sua Lei de Thelema: "Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei."
O escritor ocultista britânico
Aleister Crowley influenciou muito Raul Seixas,(especialmente em suas composições). Assim como Paulo Coelho, escritor e autor de best sellers, que por sinal era parceiro musical de Raul. Os dois fundaram a Sociedade Alternativa na década de 1970. A Sociedade Alternativa é uma utopia idealizada por Raul Seixas, e jamais realizada até hoje.

"Sociedade alternativa, Sociedade novo aeon, É um sapato em cada pé, É direito de ser ateu, Ou de ter fé, Ter prato entupido de comida, Que você mais gosta, É ser carregado, ou carregar gente nas costas, Direito de ter riso de prazer, E até direito de deixar, Jesus Sofrer"

Sociedade Alternativa
A Sociedade Alternativa foi algo muito discutido no Brasil enquanto Raul Seixas estava no auge de sua meteórica carreira. Até os dias de hoje pessoas almejam alcançar essa sociedade. Infelizmente, o que ela tem de fama, tem de escassez teórica. Na realidade, nem Raul Seixas sabia explicar direito o que era essa tal Sociedade Alternativa. Talvez fosse como ele dizia na música: "Eu que já vivi pelos quatro cantos do mundo, foi justamente num sonho que ele me falou!"
Tudo começou em 1972, quando Raul Seixas conheceu
Paulo Coelho, hoje autor brasileiro best-seller mundial. Raul tomou a iniciativa de procurá-lo, ao ler um artigo sobre discos voadores numa revista alternativa que Paulo Coelho dirigia, chamada "A Pomba". Tornaram-se amigos, sendo que Coelho se tornaria parceiro musical de Raul, ajudando a compor clássicos como "Eu Nasci Dez Mil Anos Atrás" e "Gita."
Apesar da concepção ter se dado em 1974, a dupla, e Raul Seixas já esboçava as idéias de tal Sociedade ainda no Krig Ha Bandolo, ondeos shows eram verdadeiros espetaculos teatrais e divagações místico-filosóficas. Eles procuravam, cada um à sua maneira, um caminho alternativo - caminho próprio e pleno, um caminho que o establishment nunca poderia oferecer. Como base desses pensamentos ganhou força entre ambos a obra de um dos maiores estudiosos do ocultismo do século XX,
Aleister Crowley.
Crowley nasceu na
Inglaterra em 1875 e é largamente considerado um dos maiores estudiosos do ocultismo e dos assuntos esotéricos contemporâneos. Foi um menino prodígio: aos 4 anos de idade lia a Bíblia em voz alta. Dedicou sua vida ao estudo das assim denominadas ciências ocultas e deixou vasta obra teórica, onde tenta mostrar como desenvolver e entrar em contato com uma forma especial de energia interior que denominou "Sagrado Anjo Guardião" ou, em inglês, "Holy Guardian Angel". O Objetivo do Mago que busca contato com tal energia é nada menos que usá-la produtivamente para modificar por completo sua vida.
Para desvincular-se de preconceitos religiosos, Crowley se auto-intitulava a Grande Besta 666, fato que gerou imensas controvérsias durante sua vida, sendo ele alvo de constante difamação pelos tablóides ingleses, reconhecidamente exagerados, para não dizer caluniosos. Se tal atitude "anticristã" seria controversa até mesmo no presente, que dizer do início do século, imensamente mais conservador, cheio de tabus e de irracionalidade religiosa. Durante toda a sua vida Aleister lutou para popularizar o esoterismo, revelando, por diversas vezes, segredos de seitas fechadas, afirmando que o conhecimento é livre, e assim deve permanecer - o que não o tornou exatamente popular entre muitos dos seguidores dessas seitas que o consideraram um traidor de juramentos, alguns chegando a advogar as mais severas punições físicas em resposta a seu "crime" e sua "traição".
No vídeo "Raul Seixas também é documento" do diretor Paulo Severo, Raul diz numa entrevista que "...se você não está na Sociedade Alternativa, a Sociedade Alternativa sempre esteve dentro de você. A Sociedade Alternativa foi um... eu pertencia a uma sociedade esotérica na época, em 74, que me deu um terreno em Minas Gerais pra eu construir uma cidade chamada Cidade das Estrelas, onde o advogado era o não-advogado, o policial era o não-policial, os conceitos, valores trocados, né? Uma organização nova... daí o pessoal bateu no meu ombro disse, 'ô, dá um pulinho lá fora, pô guri...' isso era 74,
Geisel, né?"
Sonhar nunca custou nada - e sonhar é uma das maiores virtudes do homem. Raulzito não se importou em sonhar. Sonhou sonhos multicores com a Sociedade Alternativa, mesmo que o mundo ao seu redor lhe dissesse que essa linda utopia era inatingível. Kika Seixas, ex-mulher de Raul que mantém ligação direta com a obra do artista, define a Sociedade Alternativa como sendo apenas um sonho, mais um ponto de vista do público do que dele mesmo.
Kika lembra que certa vez magoou muito Raul, dizendo: "Isso aí é um papo completamente impossível, que Sociedade Alternativa é essa cara?, como é que você quer criar algo, em que base, o que é isso, que palhaçada é essa? Sociedade Alternativa porra nenhuma, você não é capaz de gerir a sua própria vida, a sua família". Ela lembra ainda que o músico ficou arrasado naquele dia.

O Livro da Lei
A obra de Aleister Crowley que mais se destaca é "The Book Of The Law" (O Livro da Lei). Esse foi o texto fundador da Sociedade Alternativa, que é a expressão da vontade de ver as idéias de Crowley sendo postas em prática.
O Livro da Lei foi publicado apenas uma vez no Brasil, em 1976 , mas foi misteriosamente retirado de circulação. Hoje só encontramos publicações em inglês e espanhol, em livrarias especializadas em esoterismo. Normalmente os círculos de pessoas interessadas em misticismo têm um certo receio da obra e Crowley. Isso se justifica: essa profunda identificação de Crowley com a Verdadeira Tradição não deixa margem a que as correntes ligadas ao obscurantismo absorvessem e neutralizassem sua força. Como no caso da figura do diabo, Crowley foi identificado ao longo deste século com o Maligno, destruidor, perigoso, etc.., mas a verdade é que ele próprio induziu a que tudo isso acontecesse para que o escândalo divulgasse sua obra.
O contato com as idéias do Livro da Lei, marcariam a carreira de Raul Seixas para sempre. Não importa o trabalho de Raul que peguemos a partir daí, sempre encontraremos uma influência filosófica e mística no pensamento do compositor.
A mais clara e famosas dessas referencias foi a célebre canção "Sociedade Alternativa", onde várias frases do livro são citadas. A mais conhecida: "Faze o que tu queres, há de ser tudo da lei."
No final da música, composta por Raul e Paulo Coelho em 1974, eles avisam: "O número 666 chama-se Aleister Crowley."
Não só essa música, mas todo o álbum "Gita" continha uma série de referencias as idéias e vida de Crowley, como por exemplo a música "Loteria da Babilônia" que fala sobre ser um jogador de xadrez, saber trechos da Biblia e invenção de baralhos, possivelmente de Tarô. O nome do disco é uma homenagem ao livro sagrado dos indianos, e a música "O Trem das Sete" também está repleta de citações.
Na canção, Raul usa como alegoria um trem que passava em sua cidade durante a infância. Esse trem passará para buscar os iluminados já aptos a entrar na Era de Aquário. A letra diz: "Vê, é o sinal das trombetas dos anjos e dos guardiões, lá vem Deus deslizando no céu entre Brumas de mil megatons, e o mal vem de braços e abraços com o bem num romance astral."
Esse seriam os sinais de que o trem estaria chegando e quem quisesse poderia embarcar, já que: "não precisa passagem nem mesmo bagagem no trem."
Em 1975, Raul anuncia a Nova Era lançando o disco "Novo Aeon", uma outra denominação da mesma Era de Aquário. Em 1976 um dos maiores sucessos de Raul "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás" também com citações a Nova Era. Observe-se que, pela mística, há dez mil anos atrás nós estávamos na era de Leão-Aquário, que é diametralmente oposta à nova era de Aquário-Leão que agora está sendo buscada.
A música "Love Is Magick" composta por Raul é inspirada nas idéias de Crowley, que chamava seu conhecimento do ocultismo de magick, com "k", para diferenciá-lo de outras disciplinas.
No seu penúltimo álbum, "A Pedra do Gênesis", de 1988, Raul reafirma-se crowleyano na canção "Lei", que, apesar de constar nos créditos como sua, é, da primeira à última linha, uma transcrição fiel de uma das páginas mais conhecidas de Crowley.

Liber OZ
Este texto é a introdução clássica ao famoso Livro da Lei de Aleister Crowley. Foi escrito em 1904.
No item 5 o verbo diz "Quereriam", ou seja: Poderiam Querer. Na verdade , ninguém pode ou consegue contrariar o direito de quem exerce sua verdadeira vontade. Tudo se refere a um processo de crescimento interior. No entanto , o próprio Raul Seixas recitava o texto de forma errada, gravando-o inclusive na música A Lei (do LP A Pedra do Gênesis), dizendo: Todo homem tem o direito de matar todos aqueles que contrariarem esses direitos. Isso dá margem a perigosas interpretações para quem desconhece estes detalhes.

A Cidade das Estrelas
O lastro teórico da Sociedade Alternativa era, basicamente, os textos de Crowley e as letras de Raul Seixas e Paulo Coelho. Existe uma ausência de material documental que explique como fazer para chegar a ser um cidadão dessa Sociedade Alternativa, por isso, diversas interpretações foram sendo feitas. Falta material coerente para definir o que seria a Sociedade Alternativa, mesmo assim, muitos raul-seixistas continuam sonhando com a chamada Cidade das Estrelas.
Na realidade, a intenção de Raul não era fundar uma comunidade, tinha que ser algo anárquico, mais espiritual do que material. Dessa forma estaríamos de acordo com Crowley, que defendia uma revolução interna do ser humano, que não tinha nada ver com construção de cidades concretas. A Sociedade Alternativa seria apenas a reunião de todos aqueles que estivessem preparados para entrar na Era de Aquário, ou seja, embarcar no Trem das Sete.

Exílio nos Estados Unidos
Roberto Menescal, músico e amigo de Raul conta uma história que ilustra a ingenuidade da dupla que pretendia trazer boas novas ao mundo com a sua Sociedade Alternativa. Em 1974, Raul e Paulo Coelho receberam um convite do porta-voz do general Erneto Geisel, que dizia querer maiores informações sobre a Sociedade Alternativa. Segundo Menescal, ficaram na maior alegria quando receberam o comunicado, porque realmente acreditavam que o governo militar queria discutir com eles suas idéias. Fizeram então diversos contatos com assessores do governo militar, o resultado dessa confiança traduziu-se em buscas ilegais em seus apartamentos, prisão e posterior exílio nos Estados Unidos. Os jornais da época falavam que Raul tinha ido para os Estados Unidos bater um papo com John Lennon. A história do exílio só estourou nos anos 80, quando se podia falar um pouco do que aconteceu na época.
Segundo Raul, ele foi torturado para poder dizer os nomes das pessoas que faziam parte da Sociedade Alternativa, que segundo Geisel, era um movimento revolucionário contra o governo. Então Raulzito resolveu mentir, dizendo que tinha pacto com o demônio ao invés de dizer que tinha parte com a revolução.
Em uma entrevista, Raul disse o seguinte: "Literalmente é choque no saco. Fui torturado mesmo no governo Geisel. Me pegaram no Aterro do Flamengo, me botaram uma carapuça e fiquei três dias num lugar desconhecido. Aí vieram três pessoas: um bonzinho, outro mais inteligente - que fazia as perguntas – e um mais ‘agreste’, mais violento. Depois me colocaram num aeroporto e fui direto para o Greenwich Village (bairro nova-iorquino)"

O Imprimatur
Apesar da falta de teoria, a Sociedade Alternativa tinha seu selo, uma espécie de logotipo. O
Imprimatur, que em latim significa imprima-se. Na Igreja Católica Apostólica Romana, essa expressão significa a liberação para publicação, após a aprovação de uma autoridade eclesiástica, de um livro sobre assunto teológico ou moral previamente censurado.
Este selo pode ser identificado nas capas dos discos "
Krig-Ha,_Bandolo", "Gita", "Novo Aeon" e "Há Dez Mil Anos Atrás". A expressão Sociedade Alternativa – Imprimatur está escrita com letras góticas, à moda da cultura medieval. No centro do logo, vemos a representação de uma cruz que é uma variação da chamada cruz Ansata, um hieróglifo egípcio que significa vida e busca de conhecimento e evolução. Na parte inferior da cruz, vemos dois pequenos degraus que transformam a cruz numa chave, que nos abrirá para o mundo.

Cruz Ansata
A cruz Ansata (ou
Ankh) pode ser facilmente encontrada em toda a literatura que mostra a pictografia egípcia. Para eles, era a Cruz da Vida. Representava ainda o Laço da Sandália do peregrino, do buscador, daquele que quer evoluir, aprender, crescer. Em muitas pinturas egípcias, o deus (o sol) está com seus braços colocando esta cruz no nariz das pessoas. Corresponde ao Sopro da Vida ( um idéia semelhante a criação de Adão, na Cosmogonia Cristã). É também um símbolo da unidade entre o Ser Masculino e Feminino no Cosmos. No selo da Sociedade Alternativa, a cruz Ansata aparece com dois degrauzinhos em baixo, simbolizando tanto os degraus da iniciação, quanto dando forma de um Chave. Evidentemente a chave de todas as portas. A chave da Sociedade Alternativa. A chave da Vida.

Uma Vida sem Regras
Raul Seixas não se preocupou em elaborar informações concretas sobre a Sociedade Alternativa, isso só iria criar ainda mais regras, o que seria um contra-senso. O "
Maluco Beleza" defendia a liberdade acima de tudo, onde cada um poderia fazer o que quiser. Uma sociedade contendo regras, seu próprio dinheiro, documentos não tem nada de alternativa e Raul Seixas não defendia a criação de uma sociedade nesses meios, e sim uma revolução interna do ser humano. Uma sociedade livre, porque quanto maior o número de regras, menor a chance de alguém se tornar uma metamorfose ambulante.
Segundo Raul, valia pena continuar sonhando com a
Nova Era, já que estamos vivendo num mundo caótico e as coisas sempre acabam mudando.
Em uma entrevista em
1986, o grão-vizir do rock brasileiro declara: "A Sociedade Alternativa continua vigorando o tempo todo não importa de que maneira. São alternativas concretas mesmo, que têm de solidificar. Mas não mais com palavras, nem com porta-estandarte... até fui preso por causa disso."
Numa outra entrevista, desta vez em março de
1987, Raul fala o seguinte sobre a Sociedade Alternativa:
"Ela sempre existiu, desde o tempo do
Egito antigo. Inclusive o filósofo e estudioso Aleister Crowley, que é o papa maior dessa entidade, se baseou nos papiros egípcios (não aquele em que eu fumei maconha. Esses, cá entre nós, deviam ser muito mais gostosos), uma coisa de Osiris, Iris e Horus – pai, mãe e filho. Ele descobriu um segredo terrível por lá."
"Eu não sei que segredo era esse, porque eu era
neófito. Só na quarta iniciação eles contavam o segredo (risos). Por isso eu disse que nunca começou, nem nunca terminou a Sociedade Alternativa. Vi que meu ponto de vista não estava muito longe da AA(Astrum Argentum). E sempre será. Não adianta mentir, mistificar."

Manifesto
O texto que segue abaixo está no
manifesto/gibi A Fundação Krig-Ha, , distribuído no primeiro show de Raul em SP em 1973. Escrito por Raul e Paulo Coelho, entre outras pessoas, esse manifesto lança a idéia de Sociedade Alternativa. No ano seguinte, todas as cópias desse manifesto seriam recolhidos pela Polícia Federal e queimados como "material subversivo". Raul foi preso e torturado pelo "Dops" e é "convidado" a se retirar do país, retornando ao Brasil pouco mais tarde devido ao sucesso de seu disco "Gita"

Prefácio
Nós vos saudamos,
Maria. Nós Vos Saudamos José. E nós saudamos os artistas brasileiros que tiveram o silêncio do resto do mundo quando seus trabalhos e seus corpos foram censurados, mutilados desaparecidos.

Manifesto
1 - O espaço é livre. Todos tem direito de ocupar seu espaço.
2 - O tempo é livre. Todos tem que viver em seu tempo, e fazer jus as promessas, esperanças e armadilhas.
3 - A colheita é livre. Todos tem direito de colher e se alimentar do trigo da criação.
4 - A semente é livre. Todos tem o direito de semear suas idéias sem qualquer coerção da INTELEGENZIA ou da BURRICIA.
5 - Não existe mais a classe dos artistas. Todos nós somos capazes de plantar e de colher. Todos nós vamos mostrar ao mundo e ao Mundo a nossa capacidade de criação.
6 - "Todos nós" somos escritores, donas-de-casa, patrões e empregados, clandestinos e careta, sábios e loucos.
7 - E o grande milagre não será mais ser capaz de andar nas nuvens ou caminhar sobre as águas. O grande
milagre será o fato de que todo dia, de manhã até a noite, seremos capazes de caminhar sobre a Terra.
Saudação final do 11o manifesto.
Sucesso a quem ler e guardar este manifesto. Porque nós somos capazes. Todos nós, todos nós somos capazes.
Escrito por:
Raul Seixas, Paulo Coelho, Sylvio Passos, Christina Oiticica, Toninho Buda, Ed Cavalcanti.

A Humanidade
Quando indagado sobre a evolução da humanidade, Raul Seixas responde:
"Essa é uma pergunta que exige muita reflexão. Tem um livro meu de metafísica em que questiono a tese aristotélica das cinco perguntas básicas: porque, quem, onde, como, qual... Não existem perguntas porque não existem respostas. Não existem respostas porque não existem perguntas. Eu não pergunto absolutamente mais nada. As coisas são, e pronto. Nós seres humanos, somos verbos. Somos e estamos, é única coisa que a gente sabe. Conjecturar, quem há de? E é bonito assumir essa coisa de somente ser... Está todo mundo perguntando até hoje e ninguém tem resposta. Mas ser por ser é bom, torna a vida mais leve e menos violenta. Se todo mundo pensasse assim, as coisas certamente seriam mais fáceis...."