sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O Fédon


A origem dos problemas filosóficos

Sócrates, um filósofo grego que viveu entre 470 e 399 a. C., foi condenado à morte. Horas antes deste ingerir o veneno vários amigos foram ter com ele à prisão. Estavam tristes e revoltados, pois consideravam Sócrates o homem mais justo e sensato que conheciam e entendiam que as acusações contra ele eram falsas. Platão (discípulo e amigo de Sócrates) descreveu as últimas horas de vida de Sócrates num livro chamado Fédon.
Enquanto conversavam, é referido o problema da alma ser ou não imortal: será que a morte é o fim de tudo ou, pelo contrário, depois dela existe uma outra vida? Os amigos de Sócrates insistem para saber o que pensa ele sobre isso. Sócrates aceita examinar o problema e diz: "...talvez nada seja tão apropriado para aquele que vai partir para o Além como reflectir e discorrer sobre o significado desta viagem e o que imaginamos que seja". (Platão, Fédon, 5ª edição, Lisboa Editora, 1997, pág. 45.)
Sócrates, tal como outros filósofos, foi algumas vezes acusado de andar com a cabeça nas nuvens e de se interessar por assuntos inúteis e desligados da vida. Assim, ao dizer que, uma vez que vai morrer, reflectir acerca da morte e do sentido da vida é “apropriado” está a dizer que esse assunto não é exterior à vida humana.
Ora, tal como Sócrates, nós também somos mortais. Também vamos morrer um dia. Por isso, faz sentido – é “apropriado” – que reflictamos acerca da morte e do significado da vida. Para nós, a morte não é um assunto inútil e desligado da vida. É um assunto que se impõe a partir da nossa experiência.
Esse raciocínio pode estender-se a outros problemas filosóficos. Os problemas filosóficos são problemas que se impõem a partir da nossa experiência e não assuntos demasiado abstractos, inúteis e desligados da vida. Por isso, é apropriado reflectirmos acerca deles.
Eis alguns exemplos.
Temos amigos, por isso é apropriado reflectir acerca da amizade. Queremos ser felizes, por isso é apropriado reflectir acerca da felicidade. Dizemos muitas vezes que certas coisas são belas e outras feias, por isso é apropriado reflectir acerca da beleza. Argumentamos, por isso é apropriado reflectir acerca dos argumentos e daquilo que os torna correctos ou incorrectos. Utilizamos diariamente palavras como “verdadeiro”, “falso”, “justo” e “injusto”, por isso é apropriado reflectir acerca da verdade e da justiça. Etc.
Sendo assim, estudar filosofia e reflectir acerca dos problemas filosóficos não é perder tempo com assuntos demasiado abstractos, inúteis e desligados da vida, mas sim tentar esclarecer problemas que, pelo contrário, fazem parte da nossa vida. Ao estudar filosofia e ao reflectirmos sobre esses problemas tornamo-nos conscientes de coisas que, sem sabermos, já existiam na nossa vida.
À entrada do templo de Delfos, na Grécia, estava escrito um conselho que Sócrates considerava fundamental: “Conhece-te a ti mesmo”. Filosofar é uma forma de o pôr em prática.
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No Dúvida Metódica existem vários posts com a etiqueta “Sócrates”, dos quais o mais útil para alunos do 10º ano é este: Conselho de Sócrates: pensem bem antes de me darem razão.
Na imagem: quadro de Jacques Louis David - "A morte de Sócrates", de 1787.

4 comentários:

  1. Agora resta uma dúvida tão grande quanto a de Sócrates perante a morte:
    Será que Sócrates realmente existiu??
    Há quem diga que ele é um personagem criado por Platão...:p

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  2. Um amigo imaginário é uma pessoa, um animal ou qualquer outra criatura inventada por uma criança (mas, raramente, é inventada por um adulto). Tudo depende da imaginação; o amigo pode ser de qualquer jeito, com qualquer característica. Geralmente, são crianças sozinhas que os inventam, mas, muitas outras também podem ter um amigo imaginario para fazer sua história e seus próprios amigos.

    Muitas vezes até mesmo uma criança solitária sem amor pelos pais que precisa de amigos(uma pessoa que lhe ajude, seja seu amigo,por dias, horas, minutos e segundos..) para que a vida seja melhor, sem faltar amizade, uma coisa impotante, sem ter brigas e intrigas.

    Os amigos imaginários podem surgir de dois modos: amigos invisíveis (que ninguém pode ver, como uma fada) e, objetos personificados (com os quais a criança interage como se fossem humanos, como um crucifixo, a Bíblia ou um bicho de pelúcia).

    Há vários fatores que podem influenciar o aparecimento destes "amigos especiais". Eles podem aparecer quando a criança passa por momentos de estresse ou de ansiedade, como por exemplo, quando um amigo muda de escola ou vai morar em outra cidade, e então a criança pode substituí-lo por um amigo imaginário

    Nestas situações de estresse, ou de grandes mudanças, ou perdas importantes, como um divórcio, ida para casa ou escola novas, a perda de um ente querido, ou o nascimento de um irmão, a criança, por não encontrar suporte para enfrentar sozinha o problema, arranja um "amigo invisível", ou "imaginário". Também há de se realçar que são as crianças mais sensíveis e inteligentes que desenvolvem este tipo de recurso.

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  3. já li em um livro sobre anjos que os amigos imaginários que algumas crianças alegavam ver poderiam ser seus anjos guardiões...
    apenas uma idéia,não tenho embasamento pra discuti-la :p

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